Comissão da Verdade vai mudar causa da morte de JK

Baseado em 85 fatos, o presidente da Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo, Gilberto Natalini (PV), fará um pronunciamento histórico na próxima terça-feira 10: a declaração de que a morte de Juscelino Kubitschek, em agosto de 1976, não foi acidental

Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo terá uma sessão histórica na próxima terça-feira 10. O presidente do colegiado, vereador Gilberto Natalini (PV), pretende declarar oficialmente que o ex-presidente da República Juscelino Kubitschek não morreu de forma acidental naquele 22 de agosto de 1976.

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O pronunciamento deve ser feito por volta de 11 horas e terá como base 85 indícios que mostram que o acidente de carro ocorrido no quilômetro 165 da rodovia Dutra, próximo à cidade de Rezende (RJ), quando o ex-presidente viajava de São Paulo para o Rio de Janeiro, foi um atentado político que teve JK como alvo.

“Ele foi vítima de um atentado político, que causou a perda do controle do carro em que ele viajava e a sua morte”, declarou Natalini, durante sessão da comissão em novembro. Segundo ele, já existem indícios suficientes para comprovar que Juscelino foi assassinado. Um “assassinato de cunho político”, nas palavras do vereador.

Novas revelações

Alguns fatos e depoimentos foram determinantes para que a comissão chegasse a essa conclusão. O principal deles, possivelmente, tenha sido o depoimento do perito criminal Alberto Carlos de Minas, que contou ter notado que o crânio do motorista do Chevrolet Opala onde estava JK, Geraldo Ribeiro, havia sido perfurado por um projétil disparado por arma de fogo.

Carlos de Minas participou da exumação dos restos mortais do motorista, em 1996, e contou, em depoimento na Câmara de São Paulo, que quando quis fotografar a perfuração, foi impedido por policiais que estavam no local. O resultado oficial da perícia, que veio depois, foi de que o cérebro de Geraldo Ribeiro havia se esfacelado.

Em outubro, outra história decisiva para as investigações: o depoimento, à Comissão da Verdade, do motorista de ônibus acusado de ter provocado o acidente. De acordo com a versão oficial sobre a tragédia que matou JK, Josias Nunes de Oliveira, que dirigia um ônibus da empresa Cometa, bateu de raspão no Opala quando este tentou fazer uma ultrapassagem.

O episódio teria feito com que o carro atravessasse o canteiro da rodovia e fosse parar na contramão, onde ocorreria a batida fatal com a carreta. Mas Oliveira, que foi absolvido pela Justiça em 1977, nega com veemência que tenha batido no carro do ex-presidente, declarando que o Opala “perdeu o controle e atravessou a pista”.

Em seu depoimento na Câmara, ele conta uma história que já havia revelado à Justiça na época. A de que dois homens teriam lhe oferecido dinheiro para que ele assumisse a culpa. “Eram dois cabeludos, que vieram em uma moto e se identificaram como repórteres. Eles disseram que se eu assumisse a culpa, receberia a mala cheia de dinheiro. Eu vi a mala, cheinha de dinheiro. Mas não assumi, pois não tinha a menor culpa”.

Uma reportagem de novembro deste ano do jornalista Francisco Câmpera, do SBT (assista abaixo), traz também a versão do motorista de caminhão que estava atrás da carreta que bateu de frente com o carro do ex-presidente e disse nunca ter sido procurado para contar sua versão. Ademar Jahn foi testemunha dos últimos minutos de vida de JK, que morreu em seus braços. Segundo ele, quando o Opala de Juscelino atravessou o canteiro, o motorista do carro não tinha mais sentidos: estava deitado em cima do volante.

Juscelino Kubitschek, junto com Carlos Lacerda e João Goulart, criaram nos anos 70 a Frente Ampla para lutar pela democracia e contra a ditadura militar. Os três morreram em circunstâncias que se até há pouco tempo poderiam ser definidas como um mistério, agora vêm sendo esclarecidas.

Em novembro deste ano, o corpo do ex-presidente Jango foi exumado para que passasse por uma perícia. Ele foi homenageado com honras de chefe de Estado em Brasília. Morto quatro meses depois de JK, João Goulart foi enterrado novamente em São Borja (RS), sua cidade natal, nesta sexta-feira 6.

Às vésperas do acidente que o matou, Juscelino Kubitschek disse ao deputado Carlos Murilo: “Democracia neste país, só depois de minha morte. Eles têm muito medo de mim”.

 

 

Fonte – JL/247

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