Testemunhas dizem à Justiça que coronel Ustra comandou torturas e participou de sequestro

O coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra foi acusado por três ex-presos políticos, que depuseram nesta segunda-feira (9) à 9ª Vara Criminal da Justiça Federal em São Paulo, de comandar as ações de tortura e outros crimes no DOI-Codi –destacamento do Exército incumbido de prender opositores à ditadura militar–, localizado na rua Tutóia, no Paraíso, zona sul da capital paulista.

Pela primeira vez, o coronel foi responsabilizado formalmente por testemunhas, em uma ação penal, de cometer crimes durante a ditadura. As testemunhas foram José Damião de Lima Trindade, Artur Machado Schiavoni e Pedro Rocha Filho. Todos participavam de organizações que se opunham à ditadura e ficaram presos no DOI-Codi, onde foram submetidos a tortura.

Ustra é réu em ação penal movida pelo Ministério Público Federal em São Paulo (MPF-SP) junto com Carlos Alberto Augusto–conhecido como Carlinhos Metralha– e Alcides Singillo, ambos ex-delegados do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), que também serviu de aparelho de repressão a opositores do regime ditatorial.

Os três são acusados de participarem do sequestro do corretor de imóveis Edgar de Aquino Duarte, desaparecido desde 1971 após ser preso em São Paulo. Dos três réus, apenas Ustra não compareceu àaudiência, acompanhada por ex-presos políticos e familiares de vítimas da ditadura. Segundo o advogado do coronel, ele não compareceu à audiência por estar com problemas de saúde.

As três testemunhas ficaram presas no DOI-Codi na mesma época que Edgar, que era chamado pelos militares de Ivan Marques de Melo, seu codinome. Os três foram enfáticos ao afirmar que Ustra acompanhava a sessão de torturas e comandavam os demais que atuavam no DOI-Codi.

“Ele pessoalmente nunca torturava, mas eu fui torturado pelos subordinados dele, na presença dele. Ele dava ordens a todo tempo. Todos o obedeciam até com certo temor”, relatou José Damião de Lima Trindade, atualmente procurador do Estado de SP aposentado, que trabalhava como jornalista na AFP (Agência France Press) quando foi preso. Ela acredita que foi detido pelos militares por colaborar com a União Estadual dos Estudantes (UEE).

No DOI0-Codi, Ustra era conhecido como Major Tibiriçá. Em seu depoimento, o jornalista Artur Machado Schiavoni, que militou na ALN (Aliança Nacional Libertadora) e estava Física na USP (Universidade de São Paulo) quando foi preso, afirmou que Ustra fazia questão de demonstrar nos interrogatório que tinha “poder e ascendência” sobre o torturado.

“Ele deixava muito claro que tinha poder e ascendência sobre sua vida. É uma técnica de tortura para fazer a pessoa se render”, declarou. Schiavoni conta que, além de ser torturado por equipes do DOI-Codi, foi agredido por Ustra com um golpe conhecido como “telefone” (soco na orelha), o que lhe causou uma infecção no ouvido.

De acordo com Schiavoni, que ficou preso durante nove meses no DOI-Codi e dividiu cela com Edgar de Aquino Duarte, os militares “faziam questão de dizer que o comandante era o major Tibiriçá”. Depois de deixar o DOI-Codi, Schiavoni ficou preso por cinco anos no presídio Tiradentes, na região central de São Paulo.

Também militante da ALN e fundador do Molipo (Movimento pela Libertação Popular), Pedro Rocha Filho afirmou que Ustra comandava o destacamento e com frequência fazia provocações aos presos. “Major Tibiriçá era claramente o comandante do DOI-Codi. Ele aparecia lá, xingava os presos.”

 

Amanhã e na quarta-feira serão ouvidas mais testemunhas arroladas pelo MPF.

 

Fonte – Boa Informação

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