Cid Benjamin dá detalhes sobre o grande ato contra a ditadura: o sequestro do embaixador dos EUA. E fala do dia que encontrou um de seus torturadores.
O mais espetacular ato cometido pela guerrilha contra a ditadura militar – o sequestro do embaixador dos EUA – poderia ser lembrado de uma forma bem diferente, segundo conta o ex-guerrilheiro Cid Benjamin. “Por pouco a gente não captura o embaixador português em vez do embaixador americano”, revela o co-idealizador e um dos executores do sequestro ocorrido em 4 de setembro de 1969. (Veja a entrevista completa ao lado)
Um ano antes, Cid Benjamin era um líder estudantil de 20 anos quando ocorreu o AI-5, o ato institucional que mergulhou o Brasil numa ditadura absoluta. E ingressou no Movimento Revolucionário 8 de outubro – o MR8. A data 8 de outubro é uma referência à morte do guerrilheiro Che Guevara.
Preso e torturado, Benjamin fala que o efeito físico deixado pela tortura foi “uma surdez parcial do ouvido esquerdo”: “Provavelmente pelos chamados ‘telefones’: a pessoa está pendurada no pau de arara com a cabeça para baixo e, entre outras coisas, ele vai recebendo ‘telefones’ – tapas no ouvido”.
Anos depois, às vésperas das eleições presidenciais de 1989, reencontrou um de seus torturadores. “Eu estava no Bar Amarelinho, na Cinelândia, fui ao banheiro e me deparei com um torturador: o agente Timóteo. Ele me viu, se assustou e eu disse: ‘está lembrado de mim, Timóteo? Eu sou o Cid’”, recorda-se o ex-guerrilheiro, que garante não ter rancor dos seus algozes.
“Eu pessoalmente poderia perdoar todos os meus torturadores”, surpreende. “Acho que eles devem ser julgados e punidos – não por mim, pelo meu caso. Mas porque o futuro da tortura está ligado ao futuro dos torturadores. Talvez se os torturadores da ditadura tivessem sido punidos, o Amarildo estivesse vivo”.
Para ele, é importante o Brasil conhecer a verdadeira história dos porões da ditadura. “É preciso abrir os arquivos das Forças Armadas, da repressão política, desvendar tudo o que aconteceu, trazer isso à tona, mas muito mais para que essa coisa não se repita, para criar anticorpos na sociedade para que isso não se repita”.
Fonte – G1