Exército pediu para Argentina espionar ex-presidente Jango

Documento confidencial de 1976 relaciona mais de 90 nomes de exilados.
3°Exército, de Cascavel, pedia informações sobre ‘subversivos brasileiros’.

O filho de Jango, João Vicente Goulart, entregou nesta quinta-feira (19) à Comissão da Verdade um documento de 1976 em que o Exército pede ao governo argentino para monitorar e interrogar “subversivos brasileiros” que viviam no país vizinho à época, entre eles o ex-presidente brasileiro. A lista relaciona mais de 90 nomes de exilados durante o regime militar no Brasil.

Para a família de Jango, o documento, classificado como confidencial, comprova a espionagem ao ex-presidente durante sua estadia na Argentina por parte da chamada operação Condor, colaboração entre regimes ditatoriais à época. Os papéis foram emitidos em 24 de março de 1974, data em que é deflagrado o golpe militar na Argentina.

Jango morreu em 1976 em sua fazenda em Mercedes, na Argentina. Cardiopata, ele teria sofrido um infarto, mas não foi realizada autópsia na época. Na última década, evidências levantaram a hipótese de que o ex-presidente tenha sido envenenado por agentes das ditaduras uruguaia e argentina, em colaboração com o governo brasileiro.

A principal delas foi o depoimento do ex-espião uruguaio Mario Neira Barreiro ao filho de Jango, João Vicente Goulart, em 2006. Preso por crimes comuns, ele cumpria pena  no presídio gaúcho de segurança máxima, em Charqueadas. Barreiro disse que espionava Jango e que participou de um complô para introduzir uma substância mortal nos medicamentos que o ex-presidente tomava.

Em 2007, a família de Jango solicitou ao Ministério Público Federal (MPF) a reabertura das investigações. O pedido de exumação foi aceito em maio deste ano pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) e realizado em novembro. O resultado ainda não saiu.

Os registros oficiais foram entregues ao Diretor de Comunicação do Instituto João Goulart, Christopher Goulart, neto de Jango e advogado da família. Depois de receber o documento, ele pediu uma audiência com a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, para tentar esclarecer as providências que foram tomadas pela ditatura argentina na época.

Exército solicitou dados ao governo argentino
Com marca d’água do 3°Exército, de Cascavel (PR), o regimento solicita ao governo argentino informações sobre os nomes, como a localização, documentos de identificação, fotos recentes, possíveis acompanhantes, eventuais planos de fuga, meios de transporte e destino. Cópias de interrogatórios também são pedidas.

 

“Dados solicitados: obter através das Forças de Segurança Argentinas a confirmação da presença dos relacionados, sua localização atual e outros dados. Obter também a relação dos brasileiros lá radicados que pretendem sair, registrando sempre que possível”, diz o texto escrito no documento.

 

Fonte – G1

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