Obra de autor brasileiro inspira livro

Jorge Edwards é fã da obra de Machado de Assis e por isso se inspirou em uma delas para criar

 

Os dois protagonistas de “A Origem do Mundo”, de Jorge Edwards, são desterrados. Exilados políticos, têm a pátria como enevoada referência de seus valores ideológicos e do que foram seus amores de juventude.

Em sua memória, o Chile fora o endereço daquilo pelo que consideraram que valia a pena viver, as lutas de resistência contra a ditadura (1973-1990), o impulso das primeiras paixões.

Em Paris, são obrigados a reconstruir suas vidas no vazio, e com a necessidade de encontrar novamente uma razão para viver.

Enquanto o escritor Felipe Díaz se esvai numa vida de luxúria e bebidas, conquistando uma mulher a cada noite e colecionando suas fotos, o médico Patrício Illanes se ilude com a estabilidade do casamento.

A situação se mantém até a morte de Felipe, enterrando com ele a resposta da questão com a qual Illanes passaria a se torturar: teria o amigo tido um caso com sua mulher, Silvia?

Como evidência, ele tem apenas uma pequena foto 3×4, encontrada entre as coisas de Felipe. E, também, uma misteriosa imagem de uma mulher cujo rosto não pode distinguir, mas cuja pose emula o quadro “A Origem do Mundo” (1866), do pintor francês Gustave Courbet.

Illanes é invadido pela sensação de que foi traído e que é Silvia a personagem retratada na imitação do quadro.

O pensamento transforma-se em ideia fixa. A reação de Silvia ao ver o cadáver de Felipe, a lembrança dos encontros entre os três no passado, os telefonemas e mensagens de Felipe vão se juntando em sua mente como peças de um quebra-cabeças que acaba revelando o óbvio: Felipe e Silvia haviam sido amantes.

Instala-se um drama movido a ciúmes retroativos e mistério à la Dom Casmurro, o que não é de se espantar, uma vez que Edwards é um fã de Machado de Assis (1839-1908).

 

Representante de um grupo, a chamada Geração de 50 chilena, integrada, entre outros, por José Donoso (1924-1996), Edwards transpõe para “A Origem do Mundo” elementos que caracterizariam o estilo desse movimento, tendo como centro a tensão da vida nas cidades.

 

Fonte – O Diário de Mogi

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