No ano que marca os 50 anos do Golpe Militar de 1964, a primeira reunião da Comissão de Anistia analisou hoje (6) os processos de filhos e netos de perseguidos pela ditadura. Emoção, dor e angústia foram alguns dos sentimentos demonstrados por aqueles que conviveram ao lado dos pais, ainda na infância, durante a repressão militar.
No total, a Comissão de Anistia analisou 18 processos de filhos e netos de brasileiros perseguidos pela ditadura. Entre os casos aprovados estão os de Mariana Ribeiro Prestes, filha do líder político Luiz Carlos Prestes; de Luiz Cláudio Arraes de Alencar, filho do ex-governador Miguel Arraes; e de Lutgardes Costa Freire, filho do educador Paulo Freire.
“Vivi toda a época da ditadura, dos anos 60, ainda criança. Meu pai convidava muitos amigos brasileiros e estrangeiros para ir em casa e eles relatavam muitos momentos de tortura e perseguição. Tudo isso impactou muito e foi me levando para um quadro psicótico”, disse o cientista social Lutgardes Costa Freire.
Patrono da educação brasileira, Paulo Freire foi preso e posteriormente exilado pela ditadura militar em 1964. Teve que ir para a Bolívia e o Chile. Ainda pequeno, Lutgardes sofreu com o drama do pai. E os tempos de chumbo deixaram marcas. Hoje, Lutgardes recebeu o pedido de desculpas formal do Estado brasileiro e o direito a indenização.
“Nesse reconhecimento dos erros que o Estado cometeu contra essas pessoas, ele pede desculpas para que as pessoas possam se reconciliar com a nação. Um gesto de caráter moral que vai além da dimensão eminentemente econômica e representa a consolidação da nossa democracia”, ressaltou o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão. “Um gesto em que o Estado reconhece o legítimo direito de se resistir à opressão”, acrescentou.
Assim como o filho de Paulo Freire, a arquiteta Andrea Curtiss Alvarenga, filha de Afonso Junqueira de Alvarenga e Mara Curtiss Alvarenga, presos e depois banidos do país pela ditadura, também recebeu anistia na cerimônia de hoje. Ela e os cinco irmão também vivenciaram a repressão militar aos pais.
“Com a Lei da Anistia, resolvi voltar em 1981. Mas digo sempre que a anistia não é o momento que você retorna ao seu país. É todo um processo de readaptação, de como você vive e é reconhecido”, disse, emocionada. “Para mim, é muito emocionante saber que o Estado, que o governo te reconhece. Estão dizendo ‘nós agimos errado com você’”, acrescentou.
Fonte – Jornal do Brasil