Com objetivo de resgatar a memória dos que viveram os horrores do golpe de 1964 – Ditadura Militar – umuaramenses foram ouvidos ontem na Comissão Estadual da Verdade “Teresa Urban”. A audiência pública foi realizada na Câmara de Vereadores de Umuarama, que além dos organizadores e entrevistados, contou com poucas pessoas interessadas na história da região que se entrelaça com a do País.
Entre os personagens que viveram as ações da ditadura em Umuarama, a comissão ouviu um dos maiores advogados criminalista do Paraná, Wagner Brussolo Pacheco. Para Pacheco, os brasileiros deveriam seguir exemplos dos judeus, que em nenhum momento deixam a humanidade esquecer o holocausto. “O que devo dizer é que quem viveu ou passou pela ditadura precisa se dedicar até o fim da vida para mostrar às novas gerações o que foi viver em um regime ditatorial. Temos que mostrar o perigo que são as ditaduras seja de direita ou de esquerda. O Brasil não pode esquecer”, disse.
Ainda segundo o ex-preso político, os relatos vão complementar uma parte da história do Brasil que até então foi omitida e esses fatos podem proporcionar um novo pensar para comunidade. “Toda a vez que a população recebe informações históricas que não devem se repetir e também as que devem ser repetidas, estamos prestando um serviço ao desenvolvimento. Agora, claro que é impossível que forneça informações sem seu viés ideológico, isso como cacoete. As novas gerações devem informadas e isto não está acontecendo. Principalmente por estarmos sendo comandados por uma rede de televisão que foi uma das autoras civis da ditadura”, ressaltou.
Conforme Márcio Killer, vice presidente da CUT Paraná e membro da Comissão Estadual da Verdade “Tereza Urban”, a comissão vai contribuir com o relatório nacional. Como também, muitas informações coletadas vão servir de subsídio para um grande banco de dados histórico daqueles que foram massacrados e não tiveram oportunidade de contar. “Será um novo arcabouço de pesquisa e referência teórica histórica, tanto documental como oral, para os pesquisadores. Dessas informações os historiadores poderão apurar com mais clareza os eventos daquela época e disponibilizar para população uma interpretação diferente no sentido do que a população saiba o que de fato aconteceu”, esclareceu.
Para Killer, a ditadura não trouxe prejuízo só para as famílias dos exilados, desaparecidos ou torturados, mas para toda a sociedade brasileira, principalmente para a classe trabalhadora. “Toda população sofreu, os trabalhadores sofreram com a carestia com a impossibilidade de intervenções dos seus sindicatos. Além das violações cometidas contra quem não aceitavam o golpe, prisões, torturas, exílios e mortes, também teve a consequencia do ponto de vista organizativo impedindo que os trabalhadores tivessem avanços”, informou.
Cronograma
Os depoimentos começaram com Wagner Brussolo Pacheco. Advogado, residente em Umuarama desde 1961, ele foi detido duas vezes, em 1965 e 1966, em função de suas atividades de oposição ao regime. Às 14 horas aconteceu o depoimento de Osni Miguel Santana. Bancário aposentado, aluno da Escola Preparatória para Cadetes do Exército de 1972 a 1974, ele foi perseguido de 1978 a 1980, quando era editor e redator de jornais locais.
O depoimento de José Alcindo Gil foi às 16h30. Médico, ele foi perseguido quando trabalhava em Santos (SP), de 1963 a 1969. Em Umuarama desde 1969, ele deu sustentação ao ex-ministro José Dirceu, durante sua clandestinidade na cidade vizinha de Cruzeiro do Oeste, de 1975 a 1979. Em seguida, o último depoimento foi do deputado federal Zeca Dirceu.
Fonte – Ilustrado Umuarama