Ocorreu na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo uma audiência pública sobre a repressão aos negros na ditadura militar. Além de lembrarem os militantes assassinados pelo regime, os participantes destacaram como a violência institucional atingiu essa parcela da população por meio do aumento da desigualdade social.
“Os negros foram alvo do sistema econômico imposto pelo regime golpista e racista. Pois, naquele momento se intensificou, com maior força, a exclusão da população negra – que se viu em palafitas, favelas e subúrbios dos grandes centros urbanos”, ressaltou o manifesto lido na abertura da audiência.
Segundo levantamento da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, 42 dos 437 identificados como mortos e desaparecidos políticos, eram negros. Entre eles, os guerrilheiros Carlos Marighella e Helenira de Souza Nazareth, morta na Guerrilha do Araguaia. “[Houve ainda] aqueles que foram submetidos a execuções sumárias e a desaparecimentos forçados pelos esquadrões da morte [grupos de extermínio com participação de policiais]”, acrescentou o manifesto.
Para José Arcanjo de Araújo, que participou dos movimentos grevistas no ABC Paulista, as gerações mais novas precisam saber como foi o processo de conquista de direitos. “Se eu, hoje com 70 anos, não transmitir o que vivi, amanhã a turma vai pensar que todos os direitos vieram de graça. Mas nada foi doado, veio tudo com luta”, constatou.
Araújo recordou que, durante as greves, chegava muitas vezes em casa com marcas de pancadas da polícia. Para ele, a truculência policial, institucionalizada pelo regime, perdura até hoje com conotações racistas. “Dizem que a ditadura passou. Mas a tortura continua nos porões das delegacias, principalmente para os negros”, advertiu.
Na avaliação do ator Carlos Costa, a violência policial contra a população preta e parda ocorria antes mesmo de os militares tomarem o poder. “Essa perseguição aos negros é coisa feia. Pega esse negro e põe logo na cadeia”, ironizou Carlão sobre como as forças de segurança reprimiam o samba e o carnaval de rua. “Era assim com a Força Pública, que tinha antes da Polícia Militar. Uns caras de uma ignorância danada.”
Apesar da repressão, Carlão diz que os artistas e foliões resistiam. “A gente estava na Praça da Sé, sentavam o porrete na gente. A gente corria para a Praça do Patriarca. Assim ficava a noite toda, com eles perseguindo a gente”, contou o ator, que trabalhou por 22 anos com o dramaturgo Plínio Marcos na produção de espetáculos teatrais.
Fonte – EBC