A tortura no banco dos réus
Levava socos nos rins, chutes nos testículos e no estômago, telefones, tapas, urinavam na minha cara e enfiaram uma bucha de Bombril no meu ânus para dar choque.
Essas foram as torturas a que foi submetido o jornalista Antônio Pinheiro Salles durante a ditadura civil e militar (1964-1985) no Brasil. Ex-membro da Organização Revolucionária Marxista Política Operária (Polop), depois do Partido Operário Comunista (POC) e, por último, do Movimento Comunista Revolucionário (MCR), ele foi preso em 12 de dezembro de 1970.
Após cumprir pena no Rio Grande do Sul, acabou transferido para São Paulo. Na Oban [Operação Bandeirantes], sob a direção do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, sofreu novas sessões de torturas. Até pelo Dops-SP [Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo], dirigido pelo cruel delegado de polícia Sérgio Paranhos Fleury, o preso político teve que passar.
Os relatos de Pinheiro Salles fazem parte do livro “Ninguém pode se calar” (2014), 94 páginas, com prefácio do advogado José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça à época de Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP). A jornalista Laurenice Noleto, viúva de Wilmar Alves, ex-preso político ligado ao PCB [Partidão] nos ‘anos de chumbo’, é autora de um texto de apresentação da obra.
“Ninguém pode se calar” será lançado, hoje, em Vitória, capital do Estado do Espírito Santo, em um fórum de Direitos Humanos. Ele é produto de um depoimento de quatro horas à Comissão Nacional da Verdade (CNV), criada em maio de 2012, pela presidente da República, Dilma Rousseff. O depoimento foi tomado pelo delegado da Polícia Federal Daniel Josef Lerner.
Ele aponta nomes de torturadores como Pedro Seelig, delegado de Porto Alegre, Sérgio Paranhos Fleury, Carlos Alberto Brilahnte Ustra, Átila Rhorsetzer, Nilo Hervelha, JC, Otávio Gonçalves Moreira. Pinheiro Salles conta que esteve preso com Ivan Seixas, ex-Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), de apenas 16 anos de idade, e com André Tsutomu Ota, do Molipo.
Levavam minha cabeça de encontro à parede como se meu corpo fosse um aríete com que tentassem derrubar uma muralha.
Julgamentos
O autor conta ter sido julgado em quatro processos. Um em Porto Alegre e três, em São Paulo. “A denúncia apresentada pela Procuradoria da Justiça Militar me incluía em 15 artigos da Lei de Segurança Nacional, podendo ser condenado à prisão perpétua ou à pena de morte”, confidencia. Depois de nove anos na cadeia, ele saiu com a Lei de Anistia, em 1979. Tempos sombrios aqueles.
Serviço:
Lançamento: “Ninguém pode se calar”
Autor: Pinheiro Salles
Número de páginas: 94
Prefácio: José Carlos Dias
Apresentação: Laurenice Noleto
Fonte – DIÁRIO DA MANHÃ