Justiça argentina investigará declarações de coronel à Comissão da Verdade

Justiça argentina investigará declarações de coronel à Comissão da Verdade

 

A Justiça argentina irá investigar as declarações feitas em março deste ano pelo coronel reformado do Exército Paulo Malhães, de 76 anos, à Comissão da Verdade. Nos depoimentos, Malhães admitiu ter torturado, matado e ocultado cadáveres de presos políticos durante a ditadura militar no Brasil, entre as décadas de 60 e 80. Ex-agente do Centro de Informações do Exército, Malhães morreu um mês depois de falar à comissão. Ele foi encontrado morto em seu sítio em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, após ter a casa invadida por três homens.

No depoimento prestado em março deste ano, Malhães declarou que militares brasileiros perseguiram e sequestram militantes políticos na década de 80 e fizeram operações conjuntas com o Batalhão 601, serviço de inteligência do Exército da Argentina, durante o governo da junta militar comandada por Leopoldo Galtieri (1981-1982). Como a morte do coronel ocorreu um mês depois da confissão de tortura, membros da Comissão da Verdade e movimentos de esquerda levantaram suspeitas de que tenha havido queima de arquivo.

As declarações do coronel Malhães, morto no dia 25 de abril de ataque cardíaco, quando supostos ladrões invadiram seu sítio no estado do Rio de Janeiro, segundo informações da polícia, poderiam ser incluídas como possíveis provas no julgamento em que o Estado argentino é acusado de crimes contra a humanidade cometidos no âmbito da Operação Condor, como foi chamada a colaboração das ditaduras militares no Cone Sul.

Malhães disse à Comissão da Verdade que havia muitos argentinos “passeando pelo Rio de Janeiro, desfrutando a vida. Alguns eram exilados políticos da ONU [Organização das Nações Unidas], outros, não”. Segundo ele, a ordem na época foi para que todos fossem fotografados.

As frases do coronel foram divulgadas por meio de texto publicado na última quinta-feira (29) pela Comissão da Verdade, que investiga as violações de direitos humanos cometidos durante o período militar brasileiro.

Em uma outra declaração, o militar informou que, por ser trabalho, foi condecorado por militares argentinos. “Fiquei famosíssimo na Argentina. Por isso, me deram uma medalha”, disse.

O julgamento da atuação do Estado argentino na Operação Condor começou em março do ano passado e o Tribunal Oral Federal do país julga 24 ex-chefes militares. Os juízes Arián Federico Grunberg, Oscar Ricardo Amirante, Pablo Laufer e Ricardo Ángel Basílico investigam delitos contra vítimas do Cone Sul que morreram ou desapareceram no território argentino.

O debate se divide por etapas, segundo o país de origem das vítimas ou dos delitos ocorridos. Primeiro, foram as vítimas e os delitos cometidos no Uruguai. Até julho deste ano, serão julgados os casos chilenos e, em seguida, os paraguaios, bolivianos e brasileiros.

Na parte do Brasil, serão analisados três casos de vítimas argentinas que morreram em território brasileiro. Por fazerem parte do grupo guerrilheiro argentino Motoneros, integrantes do Batalhão de Inteligência 601 detiveram Horacio Domingo Campiglia e Mónica Susana Pinus de Binstock no Rio de Janeiro, quando chegavam de avião do Panamá, em março de 1980. Ambos foram levados ao campo especial de operações militares de Buenos Aires, o Campo de Mayo, e nunca mais aparecerem ou se teve notícias.

A terceira vítima é Norberto Habbegger, sequestrado no Rio de Janeiro em 1978 por uma operação conduzida pelo Batalhão 601.

 

 

Fonte – Capital Teresina

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