Comissão da Verdade do Sindijornalistas divulga relatório final

Trabalhos da comissão foram instaurados em 20 de março de 2013, com o objetivo de recuperar e registrar a história dos jornalistas capixabas vítimas da ditadura militar

A Comissão da Verdade Memória e Justiça do Sindicato dos Jornalistas do Estado (Sindijornalistas-ES), instalada em 20 de março de 2013, divulgou o relatório final das atividades do colegiado. A comissão foi criada com o objetivo de recuperar e registrar a história dos jornalistas capixabas vítimas da ditadura militar, entre 1964 e 1985. Para isso, realizou um amplo levantamento documental e iconográfico. O relatório será encaminhado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) nesta sexta-feira (4) para ser anexado ao relatório da entidade. Depois disso, a entidade deve analisar as providências em cada caso.

Além disso, a Universidade Federal do Estado (Ufes) se comprometeu em publicar uma coletânea dos depoimentos colhidos pela editora da instituição até o fim do ano.

O relatório da Fenaj também deve ser anexado ao da Comissão Nacional da Verdade, criada pela lei federal 12.528/12, para apurar graves violações de direitos humanos ocorridas durante o período da ditadura militar.

Um dos depoimentos à comissão que mais causou impacto foi o do ex-delegado de Polícia Civil Cláudio Guerra. Ao colegiado, ele garantiu que o deputado federal Camilo Cola (PMDB), que também é empresário, foi financiador de inúmeras ações clandestinas contra inimigos do regime militar e também desafetos pessoais.

Ele apontou a execução e o desaparecimento do corpo do dono do jornal Povão, José Roberto Jeveaux, como encomendado por Camilo Cola, pelo fato de o dono da Viação Itapemirim ter sido extorquido pelo dono do jornal. Em depoimento, Guerra afirmou que se “reunia periodicamente com os chefes do SNI [Serviço Nacional de Informação] e outros órgãos da repressão que combatiam os adversários do regime militar e encomendavam mortes e desaparecimentos de pessoas, aqui e em outros estados, onde atuei como pistoleiro, eliminando dezenas de adversários da ditadura”.

Cláudio Guerra disse, ainda, que as reuniões ocorriam em Vitória, no gabinete do então procurador-geral da República no Estado, Geraldo Abreu, com o coronel do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), Freddie Perdigão, e o comandante Vieira. Segundo Guerra, eles queriam atender ao pedido de Camilo Cola, que pretendia se livrar das extorsões de Jeveaux.

O ex-delegado relatou que conseguiu ficar fora do desaparecimento de Jeveaux por ser amigo dele. No jornal Povão havia sido publicada uma série de artigos do jornalista Pedro Maia, denominada Guerra, o Cana Dura, sobre as ações de combate ao crime que havia comandado.

Guerra acrescentou que o desaparecimento do dono do Povão ocorreu dez dias depois de ele ter recusado a encomenda e que foi feita por uma equipe de fora, que teria vindo de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, com cobertura dos policiais locais Moacir e Levi Sarmento.

Compunham a Comissão da Verdade do Sindijornalistas os profissionais Rubens Manoel Câmara Gomes, Rogério Medeiros, Edivaldo Euzébio dos Anjos (Tinoco dos Anjos), Francisco Flores (Chico Flores) e as diretoras do Sindijornalistas-ES  Suzana Tatagiba Fundão e Glaucia Regina Loriato do Nascimento, coordenadoras da comissão no Estado.

 

Álvaro José Silva

O jornalista Álvaro José Silva relatou aos membros da comissão a dinâmica da censura nas redações dos jornais do Estado. Em especial, ele destacou a tortura ao fotógrafo Gildo Loyola. Ele era militante de um movimento político nos anos de chumbo da ditadura militar e foi preso e enviado a uma guarnição militar.

No local, o fotógrafo teve um dos dedos esmagado pela coronha de um fuzil. Sofreu tantas torturas que, quando foi solto, passou três anos internado em um hospital psiquiátrico. Gildo lutou muito para se recuperar e voltar a trabalhar com fotografia.

 

Rubens Gomes

O jornalista Rubens Manoel Câmara Gomes, o Rubinho, também deu depoimento à comissão. Ele contou que sua vida pessoal foi marcada, no dia do golpe militar, 1 de abril de 1964, pela prisão do pai, Rubens Vervloet Gomes. Ele tinha 13 anos, mas já acompanhava toda a movimentação política. Ao sair da prisão, seis meses depois, o pai de Rubinho teve de dar baixa na empresa que comandava e recomeçar a vida. Em 1966, conseguiu registrar o Colégio Brasileiro de Vitória. Rubinho foi preso 11 vezes, algumas delas sem qualquer fundamento, sendo liberado sem colheita de depoimentos.

 

Vitor Costa

O jornalista, advogado e ex-procurador do Estado, Vitor Costa, prestou depoimento à Comissão da Verdade em setembro de 2013. Ele foi o único jornalista cassado na última lista de cassações editada pela ditadura militar em 1969. 

No depoimento enviado à comissão, ele relatou prisões e depoimentos que prestou no Exército, ao lado de outras vítimas da ditadura, como o médico Aldemar Neves, o comerciante Rubens Vervloet Gomes e o contabilista Hermógenes Lima Fonseca.

Ele recordou que chegou a ser afastado como colaborador da Folha Capixaba, ainda em 1963, por apoiar o líder comunista Carlos Marighela. Ele  retornou à cena política a convite do governador eleito indiretamente pela ditadura, Cristiano Dias Lopes Filho, de quem era amigo, mas em 1969 foi surpreendido pela cassação de seus direitos políticos.

 

 

 

Fonte – Século Diário

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