Evento foi promovido pela Central dos Sindicatos Brasileiros e pela Comissão Nacional da Verdade
João Vicente Goulart é filho do presidente da República deposto pelo golpe militar em 1964/FÁBIO ROGÉRIO
Com sete anos de idade, ele foi arrancado do Brasil com a família. Foi no ano de 1964 e o menino era filho de João Goulart, o presidente da República deposto pelo golpe militar. Agora, aos 57 anos de idade, João Vicente Goulart participou da homenagem às vítimas da ditadura em Sorocaba na manhã deste sábado, no salão de festas do Sindicato dos Empregados no Comércio de Sorocaba, no Jardim América. O evento, denominado Ato Sindical Unitário em Homenagem à Memoria dos que Lutaram, para que sua Luta Seja Eternizada, foi promovido pela Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) e pela Comissão Nacional da Verdade, em parceria com a CSP-Conlutas, CTB, CUT, Força Sindical, Intersindical, Nova Central e UGT.
“O exílio deprime e transforma as pessoas quase que em zumbi. Os exilados se tornam uma espécie de mortos vivos que não conseguem respirar a liberdade e a democracia”, disse João Vicente Goulart, resumindo a sensação da família, que durante o exílio precisou morar no Uruguai, Paraguai, Argentina e, depois do golpe da Argentina, viveu na Inglaterra, “porque na América Latina não dava mais nenhuma segurança àqueles que acreditavam na liberdade e na democracia como forma de governar”, avalia o filho do ex-presidente.
João Vicente Goulart disse que na década de 1970 a América Latina passou por um processo ditatorial comandado pela política externa do Departamento de Estado Americano e em certo momento todas as democracias latino americanas foram derrubadas pela política das ditaduras orientadas por Washington. “Foram perseguidos, mortos, torturados e nós temos que resgatar essas figuras heróicas e anônimas”, falou sobre os trabalhadores, jovens e demais pessoas que lutaram contra a ditadura. Os amigos do pai dele, quando atravessavam a fronteira, mesmo que fosse para “um café com o ex-presidente”, na volta eram interrogados por horas nas fronteiras ou aeroportos.
Goulart observou que a partir de 1961 formou-se no Brasil uma estrutura pró golpe. Ele ressaltou que, como naquele ano houve um levante democrático, popular, através do Rio Grande do Sul, os militares teriam se sentindo “temporariamente derrotados” e iniciaram a conspiração com farto apoio norte-americano, destinando recursos, inclusive para as redações de grandes jornais, “e assim conseguiram produzir na classe média brasileira o terror do comunismo que não era verdadeiro”, declarou João Vicente.
O evento deste sábado contou com a participação de várias autoridades, sindicalistas e trabalhadores que participaram da luta e foram vítimas da ditadura. Cerca de 200 pessoas estiveram presentes e mais de 70 pessoas que lutaram contra a ditadura foram homenageadas. A deputada federal Iara Bernardi (PT) ressaltou a importância da difusão do que foi a ditadura militar, já que a exemplo do que ocorreu no ano passado, quando manifestantes saíram às ruas, houve pessoas “saindo dos porões” para defender a ditadura. “A nossa tarefa é passar essa experiência para que não esqueçam nunca”, enfatizou.
O presidente da CSB, Antonio Neto, ressaltou a importância do evento deste sábado, neste período em que se completa 50 anos do golpe que levou à ditadura civil e militar. “Sorocaba foi o berço de grandes dirigentes sindicais, sejam ferroviários, metalúrgicos, têxteis ou rurais, que estão aqui hoje sendo homenageados especialmente para que suas famílias tenham consciência da importância que eles tiveram para a luta da democracia do povo brasileiro.”
Fonte – Cruzeiro do Sul