Comissão da Verdade de SP lembra expulsão de professores da USP durante ditadura

O legado da repressão exercida contra professores e estudantes da Universidade de São Paulo (USP) durante a ditadura militar foi tema de audiência pública da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, da Assembleia Legislativa. A expulsão de professores nos anos do regime (1985 – 1964) foi citada como uma marca que tem repercussões atuais na rotina universitária. “Grande nomes foram afastados e não se criaram ciclos necessários ao desenvolvimento científico. Tinha-se um ambiente cheio de reacionários. Pessoas que deduravam os colegas e estudantes”, relatou ontem (10) o professor Modesto Carvalhosa, que integrou a primeira diretoria da Associação dos Docentes da USP (Adusp).

A professora Janice Theodoro, que compõe a Comissão da Verdade da USP, avalia que houve perda com a saída tanto de intelectuais da universidade quanto daqueles proibidos de assumir cargos públicos mesmo que aprovados em concurso. “Uma geração de alunos e pesquisadores que poderiam questionar um tipo autoritário dentro da universidade foram calados. Todos eles eram pessoas que, de alguma forma, estavam compondo grupos de pesquisa, de liderança e de exemplo moral. Essa geração é substituída por um grupo que tem outro perfil, que sobrevive a essa grande limpeza [do regime militar]”, apontou. Ela acredita que essa ausência se expressa, por exemplo, em atitudes violentas praticadas por alguns estudantes.

O professor Carvalhosa destacou que os processos de expulsão eram uma das principais causas de tensão entre a entidade sindical e a reitoria. Ele explica que, no primeiro estágio de cassações, de 1964 a 1968, as expulsões ocorriam por meio de uma comissão para esse fim dentro da USP. No segundo período, o professor explica que ocorreram cassações de aposentadorias de pesquisadores da USP.

“[Na terceira fase], era a cassação branca. Havia uma comissão, a qual se sujeitava o reitor da época, que aceitava que nenhum docente poderia ser nomeado se não passasse pela triagem do Dops [Departamento de Ordem Política e Social]”, completou.

Durante a audiência, também foi lembrado que o Regime Disciplinar da USP permanece o mesmo de 1972, o qual prevê sanções a professores ou estudantes que promovam manifestação ou propaganda político-partidária. “Esse dispositivo foi aplicado a mais de uma centena de estudantes e funcionários nos últimos anos”, explicou ao advogado Renan Quinalha, membro da comissão estadual. Ele destacou que esse dispositivo já foi considerado inconstitucional em processo judicial que recorria a essa norma.

O professor Walter Coli leu em plenário uma carta anônima redigida em 1964, a qual delata docentes e estudantes que assumiam uma atitude constetatória na Faculdade de Medicina, onde ele atuava. “Havia uma disputa entre correntes ideológicas, que o golpe levou a balança para o lado que conhecemos. Esse era o clima que existia dentro da USP naquela época”, apontou. De acordo com ele, essa carta serviu para que o regime montasse uma lista de perseguidos da Faculdade de Medicina – uma das unidades com maior número de professores cassados no período.

 

 

Fonte – Agência Brasil

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