Comissão vistoria prédio da ditadura e ex-presos revelam torturas

Nove agentes da repressão foram chamados para depor, mas só dois compareceram

A comitiva percorreu todo o perímetro do Batalhão

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) vistoriou nesta terça-feira (30), em Belo Horizonte, uma das sete unidades das Forças Armadas utilizadas para a tortura durante o período militar (1964-1985). O 12º Regimento de Infantaria do Exército (12º RI), no bairro Barro Preto, região Centro-Sul de Belo Horizonte, era um dos locais mais temidos pelos belo-horizontinos contrários ao regime. Estiveram no edifício integrantes da comissão, peritos, representantes do Ministério Público e algumas vítimas, que fizeram um reconhecimento do prédio.

À tarde, oito agentes da repressão e um suspeito de integrar um grupo de extrema direita foram convocados para depor, mas apenas dois compareceram. Um coronel da reserva também foi ouvido e denunciou ter sido perseguido dentro do Exército por ter posições contrárias às praticas adotadas na época. O militar Paulo Rubens Pereira Diniz está pedindo anistia.

Os relatos foram ouvidos pelo coordenador geral da comissão, Pedro Dallari, e por José Carlos Dias na sede da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Minas Gerais (OAB-MG).

Também esteve presente o médico Carlos Melgaço, 69. Ele foi torturado no 12º RI e mesmo tendo ficado no local apenas uma noite, saiu de lá quase morto. “A minha esposa também estava presa lá e, enquanto me batiam, a ameaçavam. No fim, ela achou que estivesse morto. Uma noite era suficiente para entender o que se passava naquele lugar”, revela.

Atentado

Durante o seu depoimento, que durou mais de uma hora, o coronel Diniz contou alguns episódios obscuros sobre a época e denunciou ter recebido a ordem de bombardear a Praça Cívica Doutor Pedro Ludovico Teixeira, que fica em frente ao Palácio das Esmeraldas, sede do governo goiano. O atentado vitimaria cerca de 10 mil militantes que protestavam no local no ano do golpe.

“Com o bombardeio, deixaríamos o governador isolado, e essa era a intenção. Poucos minutos antes de lançar as bombas, o então governador, Mauro Borges, renunciou, e a operação foi cancelada”, contou o militar. Ele afirma que tem problemas psicológicos até hoje pelos fatos que presenciou e agradece a suspensão da ordem. “Eu teria cumprido o que me pediram e não sei como seria”, revelou.

 

Fonte – O Tempo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *