Grupo analisa 144 ossadas de vala clandestina da ditadura

O cemitério, localizado na zona noroeste da capital paulista, foi usado durante a ditadura para enterrar em segredo militantes políticos assassinados e outras vítimas de violência do regime

O grupo de Trabalho Perus, instituído em outubro pela Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República, já analisou 144 ossadas encontradas na vala clandestina do Cemitério de Perus. Do total, em 11 restos mortais foram encontrados sinais de morte violenta, três com marcas de projeteis e oito com marcas de lesões graves, como ossos quebrados. Os dados parciais foram divulgados na terça-feira (10).

O cemitério, localizado na zona noroeste da capital paulista, foi usado durante a ditadura para enterrar em segredo militantes políticos assassinados e outras vítimas de violência do regime. No Cemitério de Perus, inaugurado em abril de 1971, foram encontradas, em 1990, mais de mil ossadas enterradas em uma vala clandestina, colocadas em 1.049 caixas.

“É uma dívida que o Estado brasileiro tem para com as famílias dos desaparecidos da época da ditadura, para que eles possam encerrar o período de luto e enterrar os restos mortais dos seus entes queridos. Mas é também um trabalho importante para que a gente não tenha políticas de desaparecimento, como grupos de extermínio, esquadrões da morte, enterros em massa, como infelizmente aconteceu”, destacou a secretária da SDH, Ideli Salvatti.

Algumas ossadas já foram analisadas na década de 1990 pelo Departamento de Medicina- Legal da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em 1992, foram identificados dois presos políticos cujos restos mortais estavam na vala clandestina de Perus: Dênis Antônio Casemiro e Frederico Eduardo Mayr. Desde então, o processo de identificação ficou paralisado, sendo retomado em 2014.

O prazo para a identificação dos restos mortais pelo grupo é até o fim de 2016. Os exames genéticos estão previstos para se iniciar no segundo semestre de 2015 em laboratórios internacionais – capazes de fazer identificação em grande quantidade.

Caso alguma ossada catalogada tenham indícios significativos de pertencer a um dos desaparecidos políticos, serão feitos exames de DNA no Brasil, ainda no primeiro semestre. O orçamento para a contratação dos laboratórios internacionais ainda não foi aprovado pelo Congresso Nacional – está previsto no Orçamento de 2015, ainda não votado. Até o momento, cerca de R$ 4 milhões já foram investidos pela SDH para a identificação das ossadas.

Existem 42 desaparecidos, vítimas da ditadura, que podem ter sido levados para a vala clandestina de Perus. A coleta das amostras genéticas está sendo feita com parentes dos desaparecidos. “Para nós é importante que se esclareça esses crimes que durante muito tempo foram negados, e ainda tem militar que diz que isso não aconteceu. Que se esclareça com objetivo que isso não se torne a repetir. A impunidade dos que cometeram crimes na época da ditadura, elas se perpetua nos dias de hoje”, disse Crimeia Tele, membro da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos.

 

 

Fonte  – Agência Brasil

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