Em “A memória de todos nós”, Eric Nepomuceno relata como a sociedade brasileira tem dificuldade em lidar com a própria história
Eric Nepomuceno: “Não há prescrição para terrorismo de estado, para crime de lesa-humanidade”
O Brasil foi o último país da América Latina a criar sua Comissão da Verdade. Até 2011, era o único do continente a não ter instituído um grupo de pesquisa para investigar os crimes cometidos pelos militares durante a ditadura. Isso diz muito sobre a sociedade brasileira. Diz, sobretudo, o quanto ela tem dificuldade em lidar com a própria história.
“O Brasil sofreu um processo de amnésia, de anestesia da memória. Me espantou que o relatório da Comissão da Verdade apontasse que quem mais sofreu prisão não foram estudantes nem operários, foram os militares que se opuseram ao golpe. O Brasil segue uma coisa covarde porque vem esse negócio de que é uma página que ficou para trás, que é preciso olhar adiante. Perfeito. Eduardo Luís Duhalde, advogado que foi secretário de Direitos Humanos do Néstor Kirchner, me dizia: ‘claro que é preciso virar a página, é preciso olhar pra frente, mas antes é preciso ler o que está escrito nessa página para que ela nunca mais seja escrita de novo’”, acredita Eric Nepomuceno.
É sobre esse passado que ele escreve em A memória de todos nós. E sobre como ela pode ajudar a seguir adiante, especialmente no caso das ditaduras que tomaram a América Latina no século 20. O autor selecionou Uruguai, Chile e Argentina para aprofundar histórias sobre como o resgate dos fatos foi importante para construir o presente. Desses três países, Nepomuceno trouxe casos conhecidos. O sequestro de bebês na Argentina e no Uruguai, os voos da morte sobre o rio da Prata e as torturas no Chile são pontos de partida para refletir sobre a necessidade de revisitar a história constantemente.
Justiça
É do Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, que escapou do voo da morte minutos antes de ser jogado acorrentado no rio, um dos depoimentos mais incisivos do livro. Memória, para Pérez Esquivel, é um requisito para a justiça. Arquiteto de formação e ativista pelos direitos humanos, ele aponta, no depoimento, que é impossível construir uma democracia se a impunidade prevalecer.
Fonte – O Imparcial