Vítimas da ditadura serão ouvidas em Santo Amaro na Comissão da Verdade

O primeiro relatório parcial da CEV-BA foi entregue ao então governador Jaques Wagner em dezembro de 2014

A Comissão Estadual da Verdade – Bahia ouvirá seis vítimas da ditadura militar em audiência pública que será realizada no dia 15 (sexta-feira), a partir das 8h30 horas, no auditório do Colégio Estadual Teodoro Sampaio, no município de Santo Amaro.

Um dos depoentes, Antônio Trigueiros, 73 anos, era auxiliar técnico de manutenção da Refinaria Landulpho Alves, da Petrobras, e militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) quando foi preso em 1º de abril de 1964, em Santo Amaro. Ficou encarcerado no Quartel do Barbalho, no Forte de Monte Serrat e no Quartel do 19 BC, no Cabula, e só foi libertado em 22 de dezembro do mesmo ano. Conta que sofreu a tortura psicológica de um “fuzilamento” com pólvora seca.

Outro depoimento será o de Siginaldo da Costa Vigas, 73 anos, que também trabalhou na Petrobras e estava começando a frequentar reuniões do PCB quando foi preso em 6 de abril de 1964 e solto 45 dias depois.

A Comissão Estadual da Verdade ouvirá também o professor Carlos Augusto da Silva, 80 anos, preso de 12 de abril a junho de 1964.

Ele conta que não sofreu torturas físicas, “mas muitas torturas morais”, era ligado a grupos de esquerda e escrevia no jornal mensal “Tribuna dos Moços”, em Santo Amaro.

Laurindo Pedro Gomes, 74 anos, operador de processamento na Refinaria Landulpho Alves, também vinculado ao PCB, foi procurado pela Polícia em casa em 1964, mas conseguiu fugir pelos fundos e se abrigar na casa de parentes.

Depois, apresentou-se no Quartel General da VI Região Militar, em Salvador, e conta que foi salvo graças a uma carta de apresentação do general Juracy Magalhães, solicitada  por um procurador e chefe do partido União Democrática Nacional (UDN) em Santo Amaro, de quem era amigo. Diz também que foi muito perseguido por ter sido diretor do grêmio estudantil do Centro Educacional Teodoro Sampaio.

Outro a depor, Odyrceo da Costa Vigas, 75 anos, era operador da área de Utilidades da Refinaria Landulpho Alves quando foi preso em 6 de abril de 1964 e somente libertado em junho.

Não foi torturado, mas diz que viu muita gente que sofreu agressões e presenciou ameaças a outros presos. Apesar de não ser ligado oficialmente ao PCB, participava das reuniões.

Também vai depor o professor Aloisio Lago, 72 anos, que é diretor do jornal mensal “O Trombone”, que circula na cidade há 15 anos.

A Comissão Estadual da Verdade ouvirá ainda Maria Mutti, fundadora do Núcleo de Incentivo Cultural de Santo Amaro (NICSA) e que está criando o Instituto Cultural Emanoel Araújo.

A Comissão Estadual da Verdade na Bahia foi criada em dezembro de 2012, por meio do Decreto Estadual 14.227, com o objetivo de apurar e esclarecer violações aos direitos humanos  cometidas por agentes públicos entre os anos de 1946 e 1988, principalmente as violações ocorridas durante a ditadura militar, de 1964 a 1985.

O primeiro relatório parcial da CEV-BA foi entregue ao então governador Jaques Wagner em dezembro de 2014 e o relatório final estará pronto em agosto deste ano.

Vinculada ao gabinete do governador, a Comissão Estadual da Verdade -Bahia é formada pelos advogados Jackson Azevedo (atual coordenador) e Vera Leonelli, professoras Amabília Almeida e Dulce Aquino, sociólogo Joviniano Neto e os jornalistas Walter Pinheiro e Carlos Navarro.

 

 

Fonte – Tribuna da Bahia

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *