Violações contra funcionários da Sudene na ditadura são apuradas

Servidores aposentados são ouvidos nesta 5ª pela Comissão da Verdade.
Comissão ainda vai investigar se ditadura atrapalhou atividades do órgão.

Comissão da Verdade de PE escuta funcionários aposentados que foram afastados da Sudene, presos e torturados durante a ditadura militar nesta quinta-feira (24) no Recife (Foto: Divulgação / CEMVDHC)

 

A Comissão da Verdade de Pernambuco volta a se reunir nesta quinta-feira (24) no Recife. Desta vez, para apurar as violações aos direitos humanos que teriam sido cometidas contra os funcionários da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) durante a ditadura militar. Com o trabalho, a comissão ainda pretende mostrar que o governo militar criou barreiras para o funcionamento da instituição.

“Sabemos que houve muitos casos de violação e queremos saber como a ditadura desmontou o projeto Sudene ao longo da sua atuação. A Sudene foi criada para integrar e desenvolver os estados do Nordeste, mas foi desmontada na ditadura. Nesta época, assumiu possibilidades de trabalho que não foram fiéis ao desenvolvimento. E, hoje, é uma agência que praticamente não diz mais respeito a sua finalidade”, acusa a historiadora Socorro Ferraz, que faz parte da Comissão da Verdade e será a relatora desta sessão.

Para investigar essas denúncias, a Comissão da Verdade vai colher os depoimentos de sociólogos, economistas, advogados e engenheiros que foram vítimas da repressão militar na época em que trabalhavam na Sudene. São sete depoentes: Ulrich Hofmann, Antônio Othon Rolim, Francisco Oliveira, Plínio Soares, Clemente Rosas, Adalberto Arruda e Délio Mendes – os três primeiros moram em São Paulo e Brasília e vieram a Pernambuco apenas para a sessão.

Segundo Socorro, ainda não se sabe o que motivou o governo militar a criar impedimentos para as atividades da Sudene. Mas a Comissão da Verdade espera descobrir algumas pistas com o relato dos depoentes. “Eles trabalhavam na Sudene desde antes de 1964 e foram afastados na ditadura. Só foram reintegrados depois da anistia”, explica, contando que muitos também foram torturados. “Essa juventude que tinha certa esperança de fazer algo para essa região sofreu muitos abusos da ditadura. Os jovens foram presos, torturados, afastados do emprego e desqualificados para não conseguir trabalho em outros lugares, tendo que se exilar em outros países”, revela.

Francisco Oliveira, primeiro a depor, contou que foi
preso em casa por dois policiais que chegaram na
madrugada (Foto: Divulgação / CEMVDHC)

O pernambucano Francisco de Oliveira, que é um dos grandes nomes da sociologia brasileira, por exemplo, lembra que, em abril de 1964, dois policiais chegaram à sua casa durante a madrugada e o levaram. Ele era superintendente adjunto da Sudene, foi torturado e ficou preso por três meses. O engenheiro Ulrich Hoffmann, o economista Antônio Othon Rolim e o técnico em desenvolvimento social Plínio Monteiro Soares também foram presos para “averiguação de práticas subversivas”. Segundo a Comissão da Verdade, Soares ainda foi acusado por agentes da Secretaria de Segurança Pública de Pernambuco de “enquadrar-se dentro dos princípios da subversão dominante na Sudene”.

Todos esses funcionários serão ouvidos em audiência pública das 9h às 17h desta quinta-feira (24) na Sala Calouste Gulbenkian, da Fundação Joaquim Nabuco, que fica no bairro de Apipucos, na Zona Oeste do Recife. Todo os depoimentos farão parte do relatório final da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara, que deve ser concluído em julho de 2016.

 

 

Fonte – G1

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