Uma gripe aparentemente inofensiva matou várias índios, o que sugere que os contatos eram feitos sem o planejamento adequado
No jornalismo só há uma profissão: a de repórter. Editores e redatores não são profissões, e sim cargos. Se algum dia, o repórter passar a acreditar que sua profissão é ser editor, única e exclusivamente recebendo textos para organizar e, às vezes, maltratar, então adeus: terá decretado sua morte profissional e, mesmo, poderá se aposentar, ou melhor, estará aposentado.
Pois Rubens Valente, da “Folha de S. Paulo”, homem do presente e não do passado, é, acima de tudo, “o” repórter, um senhor repórter. Mas não raro, como tem ocorrido noutros países, como os Estados Unidos, o repórter percebe que algumas de suas investigações não cabem mais apenas nas páginas de jornais e, por isso, merecem figurar no formato de um livro. O que parece uma reportagem espichada, é, na verdade, uma reportagem ampla que não coube nos jornais (com a internet, o quadro muda um pouco, mas o formato livro ainda é o que mais agrada aos leitores, que estão por aí, à espera de boas coisas para ler).
O livro “Operação Banqueiro” (Geração, 464 páginas), no qual se rastreia a fabulosa história do indefectível Daniel Dantas e histórias correlatas, alcançou um imenso sucesso. É jornalismo de primeira linha e, dirá um pesquisador atento, um registro histórico a respeito de um momento “x” do capitalismo brasileiro. Não se deveria lê-lo, portanto, tão-somente como denúncia. Vale percebê-lo como um comentário brilhante — mais do que uma análise do ponto de vista do economista — a respeito da política e da economia de um país que se tornou potência, mas se comporta, por vezes, como se fosse uma província de segunda categoria.
O lance de Daniel Dantas era grande, possivelmente continue grande, apesar dos traços provincianos. O repórter capta isto à perfeição e os historiadores vão, adiante, agradecê-lo pela apresentação praticamente de fontes primárias. Quer dizer, o livro é um documento, e não, insista-se, uma mera denúncia. Tanto que chegou a ser contestado, especialmente por Daniel Dantas, mas não desmentido. A verdade rende dores — de cabeça e, às vezes, processuais. Mas é um prazer, para o leitor, a leitura de um livro atento, de certo modo “fechado” e não panfletário, com qualidade acima da média. Rubens Valente é um repórter, e não um cruzado ideológico.
Incansável, mesmo trabalhando na redação, produzindo reportagens para o dia a dia ou textos especiais, Rubens Valente está de volta às livrarias, com o livro “Os Fuzis e as Flechas — História de Sangue e Resistência Indígena na Ditadura” (Companhia das Letras, 480 páginas). Frise-se que não li a obra, exceto um texto, de autoria do repórter, publicado na “Folha de S. Paulo”. Neste texto, que me atraiu para a leitura do livro, conta-se a história de contatos de homens da cidade, os especialistas, com índios (termo não apropriado, diria Flaubert, mas do qual não há mais como escapar) que não mantinham contatos com a (ex-)chamada “civilização”. Apesar das boas intenções, os homens urbanos levaram a peste à tribo. Uma gripe, que parecia inofensiva, matou vários indígenas. Uma história dolorosa, e muito bem contada, porque, além de apurar bem, Rubens Valente tem prosa e fluência de escritor, bom contador de história que é.
A seguir, uma síntese fornecida pela editora do livro: “‘Os Fuzis e as Flechas’ é uma investigação jornalística que descreve centenas de mortes de indígenas durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Durante um ano, o autor entrevistou oitenta pessoas, entre índios, sertanistas, missionários e indigenistas, percorreu 14 mil quilômetros de carro, esteve em dez Estados e dez aldeias indígenas do Amazonas, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Além de se valer de milhares de páginas coletadas em arquivos de Brasília, São Paulo e Rio, o livro traz à tona registros inéditos de erros e omissões que levaram a tragédias sanitárias durante a construção de grandes obras, como a rodovia Transamazônica, que cruzou a Amazônia de leste a oeste. Denso e fluente, repleto de informações desconhecidas, este livro é a mais completa pesquisa já realizada sobre o assunto”.
Como às vezes digo, eis um livro para figurar nas nossas listas de leitura penelopianas (são feitas e desfeitas com frequência).
Fonte – Jornal Opção
Caros senhores da ABAP. Sou anistiado politico e tenho desde 2013 uma Exposição itinerante ,didática, multimidia, apartidária e gratúita sobre tudo oque se passou durante a Ditadura Civil-Militar de 64 á 85.Vide in Youtube:”Exposição LIBERDADE SEMPRE”. Ela possui 36 banners temáticos:Economia, Corrupção, Saúde, Cultura,Jornais “Nanicos” e Clandestinos, Educação, Movimentos Estudantis,2 Copas Mundiais,Movimentos Operários, Esquerda reage,Repressão Política,Exilio,Igreja Católica Resistente, “Operação Condor”,”Diretas-Já”,Interê$$e$ e Invasões dos EUA no Mundo.Essa Exposição apesar de ter texto escrito nos banners , possui monitoramento eletrônico por mp3 e fones externos de ouvidos. Também simultâneo á visitação dos banners tem projeção em telão de letras de “Músicas de Protesto”. Além disso há mais 10 módulos extras e distintos na forma; Palestra, MIni-Curso, Jogo da “Lesma Democrática”, Micro-Performance, Hemeroteca, Biblioteca ,etc.Gostaria de trocar idéias com os senhores sobre a divulgação da apresentação que faço geralmente em Escolas de ensino fundamental e médio e Universidades, mas pode ser também em ONGs , Bibliotecas,Sindicatos etc.