O totem de concreto solitário foi erguido com aproximadamente um metro e meio de altura. No topo, traz uma placa de metal onde estão gravados 31 dos literalmente milhares de nomes que pretende homenagear. É cercado por mudas ainda raquíticas e secas, colocadas ali para um dia virarem um pequeno bosque de ipês amarelos.
O tributo é discreto e pode tranquilamente passar despercebido por quem não souber de antemão que está ali, no gramado ao lado do prédio da administração e dos velórios no Cemitério Municipal Dom Bosco, em Perus, em uma área remota da zona norte da capital paulista.
O memorial foi inaugurado no início deste mês pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente e pelo Serviço Funerário do Município de São Paulo. Homenageia vítimas da ditadura na capital paulista que desapareceram e foram descobertos mais de mil corpos. A placa traz o seguinte texto:
“Neste cemitério foram sepultadas vítimas da reprssão numa época em que as forças do Estado reservavam-se o direito de torturar e matar quem ousasse defender a democracia. Enterrados às pressas, quase sempre como desconhecidos, sob o manto de um esquema perverso de ocultação de cadáveres implantado com a colaboração da prefeitura e seus servidores”.
“Essa é uma homenagem da Prefeitura de São Paulo aos mortos e desaparecidos da ditadura militar cujos corpos, identificados ou não, foram acolhidos por este solo em sua trajetória de resistência e esperança”, segue o texto da placa.
Além de Perus, receberão o memorial até o final de outubro os cemitérios de Campo Grande (zona sul da cidade) e Vila Formosa (zona lest). Em comum, os três locais abrigavam valas coletivas clandestinas, usadas por agentes da repressão para sumir com os corpos de presos políticos assassinados, invariavelmente sem chance de defesa após sessões de tortura ou emboscadas.
Todos os homenageados eram militantes de partidos, sindicatos ou organizações de esquerda. Muitos entraram para a luta armada, outros apenas exerciam o direito negado de discordar do governo militar. A maioria era jovem, com menos de 30 anos. Todos foram assassinados sem chance de defesa. Em todos os casos, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos do governo federal, instaurada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), reconheceu a culpa do Estado brasileiro nas mortes.
Cenário de holocausto: mil corpos na vala comum
Fonte – UOL