No dia 25 de outubro de 1975, portanto, há 42 anos, Vladimir Herzog era torturado e assassinado nas dependências do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna, o DOI-CODI, localizado a rua Tomás Carvalhal, 1030, no bairro do Paraíso, em São Paulo.
Isso aconteceu depois de Herzog se apresentar voluntariamente, no dia anterior, para prestar esclarecimentos sobre sua ligação com o Partido Comunista Brasileiro e sobre uma campanha contra ele e contra o jornalismo praticado pela TV Cultura, emissora da qual Vlado era diretor, levada a cabo na Assembleia Legislativa de São Paulo por Wadih Helu e José Maria Marin, deputados da ARENA, o partido de sustentação do regime militar.
A repercussão da morte de Vladimir Herzog foi enorme. A partir daquele momento, estava exposta aos olhos do país a crueldade do regime ditatorial em vigência desde 1964. Manifestações populares, principalmente de estudantes, começaram a eclodir, como não ocorria desde 1968.
Uma semana depois do assassinato, mais de 8 mil pessoas participaram de um culto ecumênico na Catedral da Sé, em São Paulo, concelebrado pelo cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel e o reverendo James Wright. O fato mobilizou não apenas importantes setores da oposição, mas até o conservador empresariado paulista. Começava aí o processo que culminaria na redemocratização do País.
Em janeiro de 1976, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, liderado por Audálio Dantas e Fernando Pacheco Jordão, encaminhou à Justiça Militar o manifesto “Em nome da verdade”, subscrito por 1.004 jornalistas. Era a primeira vez, naquele período de forte censura e repressão, que se ousava contestar publicamente a versão oficial de suicídio e reclamar a completa elucidação dos fatos.
Em 1978, a Justiça brasileira, em sentença proferida pelo juiz Márcio José de Moraes, condenou a União pela prisão ilegal, tortura e morte de Vladimir Herzog. Em 1996, a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos reconheceu oficialmente que ele foi assassinado e concedeu uma indenização à Clarice Herzog e sua família, que não a aceitou, por julgar que o Estado brasileiro não deveria encerrar o caso dessa forma. Eles queriam que as investigações continuassem. O atestado de óbito, porém, só foi retificado mais de 15 anos depois.
Vladimir Herzog, no entanto, permanece vivo. Muito vivo.
Por meio do Instituto Vladimir Herzog, criado em 2009 e presidido por Clarice Herzog para celebrar a vida de Vlado e para fortalecer a luta pela Democracia, pelos Direitos Humanos e pela Liberdade de Expressão.
Por meio do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, que neste ano chega a sua 39ª edição batendo recordes de inscrição e valorizando, ainda mais, o jornalismo que se propõe a denunciar as violações de direitos humanos ao redor do país.
Por meio da Praça Vladimir Herzog, no Centro de São Paulo, que reúne obras de arte concebidas pelo artista plástico Elifas Andreato em homenagem ao Vlado, e recebe centenas de pessoas todos os dias.
E por meio de tantos outros espaços, eventos, instituições, filmes, livros e iniciativas diversas que homenageiam e resgatam a memória de um período tão cruel, tão triste, mas tão importante na história do país.
A luta continua.
Vladimir Herzog. Presente!
Fonte – Vermelho/SP, com texto de Giuliano Galli, para o Instituto Vladimir Herzog