Segundo coordenador, existem contradições sobre a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek, morto em um acidente em 1976; relatório final da comissão foi apresentado na ALMG, em BH.
relatório final da Comissão da Verdade de Minas Gerais (Covemg) apontou contradições que sugerem que o ex-presidente Juscelino Kubitschek tenha sofrido um atentado político que causou a sua morte, e não um acidente, como se acredita. A informação foi dada nesta quarta-feira (13), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), e se baseia em contradições encontradas pela pesquisa realizada no estado.
A Comissão da Verdade de Minas Gerais foi criada em 2013 e envolveu mais de 100 pessoas, entre elas pesquisadores e voluntários. O objetivo da Covemg era ajudar a esclarecer os crimes cometidos durante o período da ditadura militar.
A suspeita da comissão mineira contraria o resultado da investigação a Comissão Nacional da Verdade, que disse em abril de 2014 que os laudos e fotografias do acidente de carro que causou a morte do ex-presidente sequer sugerem elementos que suportem que Kubitschek tenha sofrido um atentado.
“Nós analisamos novas documentações, um outro conjunto probatório e chegamos à conclusão que, muito provavelmente, muito possivelmente, o que aconteceu com Juscelino Kubitschek é que foi um atentado político, tendo em vista uma série de novas circunstâncias que foram objetos da pesquisa. (…) Pelo menos oito contradições são relatadas em nosso relatório”, disse o coordenador da Covemg, Robson Sávio Souza.
No dia 22 de agosto de 1976, o veículo Chevrolet Opala, placa NW-9326 RJ, que conduzia Juscelino e seu motorista Geraldo Ribeiro pela Via Dutra, rodovia que liga São Paulo a Rio de Janeiro, bateu de frente com uma carreta Scania Vabis, placa ZR-0398-SC, após ter sido atingido por um ônibus.
Já a Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo apresentou, em dezembro de 2013, conclusão de que a morte do ex-presidente tenha sido provocada por um atentado planejado por militares.
Relatório final
O relatório final apresentou dados sobre violações de direitos fundamentais de cidadãos cometidas no estado entre 1946 e 1988, com destaque para o período da ditadura militar, a partir de 1964.
Para o estudo, foram ouvidas 222 pessoas que viveram ou testemunharam os crimes relatados. A comissão também pesquisou documentos em arquivos públicos e privados e realizou audiências públicas em municípios como Belo Horizonte, Montes Claros e Juiz de Fora, dentre outros.
Um dos destaques é a quantidade de mortos e desaparecidos em cidades do interior. De acordo com Robson Sávio Souza, este número é maior do que se tinha registro até então. Só em Minas, foram relacionados 109 mortos e desaparecidos no campo.
Souza aponta que os autores das práticas criminosas, como tortura, não eram somente agentes da segurança do estado, como policiais civis e militares. Os estudos da comissão durante estes quatro anos apontaram a participação de outros agentes do estado e até de civis, como empresários dos ramos de siderurgia, mineração e reflorestamento.
A comissão também verificou que crimes foram cometidos em favorecimento de fazendeiros, para grilagem de terras, contra camponeses.
Os índios também sofreram violações de seus direitos, com a ação da Guarda Rural Indígena, estruturada pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e responsável, segundo a comissão, pela repressão contra esta população, em conjunto com a Polícia Militar.
Ainda foram vítimas do sistema repressor trabalhadores e movimentos sindicais que se colocavam contra o governo, estudantes e representantes de universidades, artistas e religiosos.
De acordo com o coordenador, um papel importante também da comissão é apontar recomendações para os três poderes estaduais – Executivo, Legislativo e Judiciário – para que as violações registradas não se repitam.
“Porque muitas das práticas que aconteciam no período ditatorial, como por exemplo a tortura e a violação sistemática dos direitos humanos, continuam acontecendo”, disse Robson Souza.
Fonte – G1 -13/12/2017