Documento foi divulgado pelo governo dos EUA na quinta (10). Alagoano, o jornalista e líder comunista desapareceu no Rio de Janeiro, pouco tempo depois do início do governo Geisel.
A informação de que o general Ernesto Geisel, presidente do Brasil entre 1974 e 1979, sabia e autorizou a execução de opositores durante a ditadura militar não foi recebida com surpresa pela família do jornalista alagoano Jayme Amorim de Miranda, desaparecido em 1975. “Já imaginava”, disse o neto dele, Thyago Miranda.
Para Thyago, essa descoberta derruba a ideia de que Geisel era o mais “maleável” dos generais que governaram o país durante o período militar. Até hoje, a morte de Miranda não foi esclarecida.
Essa informação sobre o general faz parte de um documento elaborado pela CIA, o serviço secreto americano, em 11 de abril de 1974, e que foi tornado público na quinta-feira (10). Ao menos 89 morreram ou desapareceram após reunião relatada no documento.
O G1 conversou nesta sexta (11) com o bancário Thyago Miranda. Ele disse que o relatório da CIA apenas confirma o que a família e vários pesquisadores já imaginavam.
“A gente já imaginava isso. É muito importante esse documento ter vazado [o documento], pois ele vem de encontro a outras teses, que diziam que o Geisel era mais maleável. Minha avó chegou a escrever duas cartas para o general, mas ele respondeu com deboche, dizendo que meu avô estava na Rússia, que era um fugitivo”, afirma Thyago.
Jayme Miranda, além de jornalista, também era líder comunista, e desapareceu em 4 de fevereiro de 1975, no Rio de Janeiro, algum tempo depois de Geisel assumir a presidência.
Ele havia saído de casa, no bairro Catumbi, para encontrar um colega do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que lhe entregaria alguns documentos. Desde então, não foi mais visto.
Segundo informações da família do jornalista, Miranda foi torturado no DOI-CODI em São Paulo. Não sabe ao certo, no entanto, o que houve com o corpo dele, que não foi encontrado até hoje.
“A Comissão da Verdade já apresentou relatório com a conclusão de que houve abusos durante o período da ditadura, e até hoje aguardamos uma retratação do Exército, que também não libera acesso aos arquivos daquela época”, continua Thyago.
Ainda segundo o neto do jornalista, duas pessoas que teriam algum tipo de envolvimento com o desparecimento dele foram encontradas recentemente. Os familiares querem que elas sejam ouvidas.
“Vamos entrar com uma representação no Ministério Público (MP-AL), para que elas sejam ouvidas. Uma delas, que está no Espírito Santo, disse em uma entrevista que o corpo do meu avô foi jogado em um rio. E soubemos que um dos homens que participaram da operação que matou o Jayme ainda está vivo, no Rio Grande do Sul”, diz o advogado.
Thyago conclui dizendo que “a volta da ditadura é um engodo. Muita gente diz que havia a questão da honestidade, mas isso ocorria porque não havia como investigar. Houve muita corrupção, e quem denunciava sofria sanções e até podia ter a vida ceifada. É uma ilusão dizer que as coisas andavam de forma mais honesta”.
Relatório da CIA
O documento elaborado pela CIA relata uma reunião entre Geisel, João Batista Figueiredo, então chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), e os generais Milton Tavares de Souza e Confúcio Danton de Paula Avelino, ambos na ocasião no Centro de Inteligência do Exército (CIE), ocorrida em 30 de março de 1974.
“Em 1º de abril, o presidente Geisel disse ao general Figueiredo que a política deve continuar, mas deve-se tomar muito cuidado para assegurar que apenas subversivos perigosos fossem executados”, continua o documento.
Ainda segundo o relato, todas as execuções deveriam ser aprovadas pelo general João Baptista Figueiredo, sucessor de Geisel –e ocupante da Presidência de 1979 a 1985. Partes do documento continuam em sigilo.
Um outro relatório divulgado em 2014 pela Comissão Nacional da Verdade aponta que durante a ditadura militar ocorreram 434 mortes e desaparecimentos, e 377 agentes eram responsáveis pela repressão.
Fonte – G1