Lúcio Bellentani, de 74 anos, foi preso em 1972 em plena fábrica da Volkswagen em São Bernardo e torturado. Caso foi investigado por comissões da verdade e é acompanhado pelo Ministério Público
O ex-metalúrgico Lúcio Bellentani morreu por volta das 5h de hoje (19), aos 74 anos – completaria 75 em 30 de novembro. Ele foi o principal personagem do documentário Komplizen? (Cúmplices?) – A Volkswagen e a ditadura militar brasileira, lançado na Alemanha em 2017 pelos jornalistas Stefanie Dodt e Thomas Aders, retratando a colaboração da empresa com o regime ditatorial.
Filho de camponeses, Bellentani chegou a São Paulo em meados dos anos 1950. Entrou na Volkswagen de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, em 1964. Em julho de 1972, então ferramenteiro da Volks e militante do PCB, foi preso por agentes na própria fábrica, torturado no local e posteriormente no Dops, onde permaneceu durante oito meses. Ele se tornou um dos principais exemplos da colaboração que muitas empresas, públicas e privadas, deram à ditadura, o que se tornou objeto de investigação de diversas comissões da verdade instaladas pelo país, inclusive a nacional (CNV), que reservou um capítulo específico ao tema em seu relatório final.
Segundo o vice-presidente da Associação Henrich Plagge (homenagem a outro ex-metalúrgico), Tarcísio Tadeu, ainda ontem (18) Bellentani, que presidia a entidade, participava de reunião em São Bernardo, quando se sentiu mal. Chegou a escarrar sangue e teve súbitos aumento e queda da pressão arterial. Socorrido, voltou para casa, em Jacareí, no interior paulista. Lá, voltou a passar mal, foi internado, entrou em coma e morreu no final da madrugada.
O velório ocorreu na Câmara Municipal de Jacareí. O sepultamento foi realizado às 16h. Bellentani tinha duas filhas e um filho do primeiro casamento. Do atual, com Maria Sérgia, uma enteada.
Há pouco mais de um mês, Bellentani e outros ex-metalúrgicos da Volks estiveram na fábrica, cobrando da empresa uma reparação, incluindo um pedido formal de desculpas, por suas atitudes durante a ditadura. “Os protagonistas não estão participando da negociação (com o Ministério Público)”, protestou.
“Desde o início do Caso Volks, Lúcio foi incansável militante. Ia onde fosse necessário para testemunhar e pedir REPARAÇÃO pelos crimes cometidos pela Volks e outras empresas”, afirmou, em nota, o IIEP (Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas), lembrando o “longo percurso” de Bellentani como militante e destacando sua presença na Oposição Metalúrgica de São Paulo e na fábrica da Ford em São Paulo. O dirigente também era fundador e presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados do Brasil (Sinab), filiado à CSB.
FONTE – REDE BRASIL ATUAL