Karen Keilt diz ter provas documentais da colaboração de seu pai, Frederic Birchal Raborg, com os CIA, mas que não tem maiores detalhes porque só as conseguiu após a sua morte. Para ela, a hipótese mais provável é que Raborg teria se apropriado de dinheiro que a CIA enviou através dele ao governo militar da época, e que sua prisão teria sido uma represália por isso.
A escritora brasileira Karen Keilt passou boa parte de sua vida tentando encontrar as razões que a levaram a passar 45 dias nos porões do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), em São Paulo, em plena ditadura brasileira, onde ela foi torturada e estuprada. Sua tragédia pessoal aconteceu no ano de 1976, e ela nunca soube explicar, já que não era uma opositora do regime.
Após anos buscando respostas, ela finalmente as encontrou, e as revelou em uma recente conversa com leitores, na cidade de Phoenix, onde confessou: “todos os meus pesadelos foram confirmados quando soube que meu pai trabalhou para a CIA”.
A autora, que vive nos Estados Unidos há 40 anos, disse ter provas documentais da colaboração de seu pai, Frederic Birchal Raborg, com os CIA (Agência Central de Inteligência), mas que não tem maiores detalhes sobre as razões de sua prisão porque só teve acesso a tais evidências após a sua morte (em 1996). Contudo, ela acredita que a hipótese mais provável é que Raborg teria se apropriado de dinheiro que a CIA teria enviado, através dele, ao governo militar da época, e que sua prisão teria sido uma represália por isso.
Keilt afirma que tentou perguntar ao pai várias vezes sobre o tema, mas sempre era impedido pela mãe e os irmãos: “não precisa falar disso, seu pai vai ficar furioso, você tem que esquecer o que aconteceu e andar para frente”, dizia sua mãe. Ela também lembra que, durante os últimos dias de vida de Raborg, já no hospital, ela finalmente o questionou sobre o caso, mas sua resposta foi “nunca vou falar sobre isso”. O pai faleceu no dia seguinte.
Em 2011, Karen Keilt lançou o livro The Parrot´s Perch”, em tom autobiográfico, no qual fala sobre a experiência da prisão e da tortura. O título faz alusão ao pau-de-arara, instrumento de tortura usado na ditadura brasileira, e do qual ela foi vítima. O livro não possui versão em português.
A escritora também reconhece que os trabalhos da Comissão da Verdade, criada pelo governo de Dilma Rousseff, foram essenciais para que ela soubesse da verdade sobre o seu caso. Em 2014, ela encontrou uma série de fotos e arquivos levantados pela comissão que demonstram que Raborg trabalhou para divisões da inteligência americana durante por cerca de 20 anos, e chegou a ser figura próxima de generais presidentes comoErnesto Geisel (1974-1979) e João Figueiredo (1979-1985).
Fonte – Revista Forun