Ex-agente da ditadura é extraditado da França para a Argentina

Publicado originalmente em 16 dez 2019, 17h47

Preso no dia 11 em Paris, Mario Sandoval é acusado pela tortura e morte do estudante Hernán Abriata e de mais 500 pessoas

O ex-policial argentino Mario Sandoval chegou nesta segunda-feira, 16, em Buenos Aires após ter sido extraditado pela França. Sandoval foi preso em Paris na quarta-feira 11 e será julgado na na Argentina pelo desaparecimento do estudante Hernán Abriata  durante a ditadura militar (1976-1983).

“O  processo de extradição de Mario Sandoval é o resultado de um trabalho conjunto da Justiça Federal e do Ministério Público e dos árduos esforços diplomáticos realizados em diferentes áreas do Ministério das Relações Exteriores e da Embaixada da República na França desde 2012, que contou com o apoio de um advogado francês especializado em direitos humanos para garantir que o ex-policial pudesse ser julgado na Argentina”, informou em comunicado o Ministério das Relações Exteriores do país vizinho.

A extradição de Sandoval “confirma o caráter da política estatal” de julgar as violações de direitos humanos e o compromisso universal do país de que crimes contra a humanidade não devem ficar impunes, afirma a nota.

Sandoval, de 66 anos, exilou-se na França após a queda da Junta Militar que governava o país, em 1983. Ele foi detido na quarta-feira em sua residência em Nogent-sur-Marne, um subúrbio ao leste de Paris. Ele é suspeito de ter participado do sequestro e desaparecimento do estudante de arquitetura Hernán Abriata, em outubro de 1976.

Abriata foi levado para a Escola de Mecânica da Armada (ESMA), um dos principais centros de tortura da ditadura argentina. Mais de 5.000 pessoas desapareceram durante o regime militar, muitas das quais foram drogadas, com braços e pernas atados, e lançadas de aviões sobre o Rio da Prata.

Entre as vítimas dos “voos da morte” estão as freiras francesas Alice Domon e Léonie Duquet, sequestradas e assassinadas junto com fundadoras da associação humanitária Mães da Praça de Maio, em dezembro de 1977, como resultado da infiltração do militar Alfredo Astiz, mais conhecido como “o anjo da morte”.

Embora a suspeita seja de que Mario Sandoval tenha participado de mais de 500 assassinatos, torturas e sequestros durante a ditadura militar, a Justiça argentina se apoiou apenas no assassinato de Abriata para pedir sua extradição por ser o caso com mais provas e testemunhas contra o ex-policial.

Sandoval, que obteve a nacionalidade francesa em 1997, disse à imprensa no dia em que foi preso que não era a pessoa procurada. O ex-policial levava uma vida tranquila em Paris. Ele trabalhou como professor no Instituto de Altos Estudos de América Latina da Sorbonne Nouvelle e da Universidade de Marne-la-Vallé, chegando até a ser conselheiro do ex-presidente Nicolas Sarkozy. Ninguém se deu conta de quem ele era até ser reconhecido em uma foto. Em uma declaração, os professores de Marne-la-Vallé pediram sua detenção.

Na Argentina, onde a ditadura deixou 30.000 desaparecidos, mais de 3.000 pessoas são acusadas em processos por crimes de lesa-humanidade desde a anulação de leis de anistia em 2003. Os crimes não prescreveram nem foram objeto de lei de anistia. Cerca de 600 casos ainda estão em tramitação.

FONTE – AFP/VEJA