Morre cabo Anselmo, militar infiltrado que atuou na ditadura, aos 80 anos

Ele ficou conhecido nacionalmente após se tonar um agente infiltrado da ditadura militar em grupos guerrilheiros

Morreu na noite desta terça-feira (15/3), José Anselmo dos Santos, mais conhecido como cabo Anselmo, ex-agente duplo que atuou durante o regime militar, aos 80 anos. Foi um dos nomes marcantes na história da ditadura. Ele atuou como agente duplo durante o regime militar. Em 2004, ele entrou com um requerimento na Comissão de Anistia, que negou sua reintegração na Marinha e o direito à indenização de anistiado político. Faleceu em Jundiaí (SP). Estava com uma infecção renal.

O militar ficou conhecido nacionalmente após se tonar um agente infiltrado da ditadura em grupos guerrilheiros. Sua trajetória, que foi o principal colaborador dos órgãos de repressão do regime militar, é contada no livro O Massacre da Granja de São Bento, do jornalista pernambucano Luiz Felipe Campos.

A operação resultou na morte de seis militantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), em janeiro de 1973, no Grande Recife, e teve participação decisiva do agente duplo, é relembrada na obra. Na ocasião, a então companheira de Anselmo, Soledad Barret Viedma, também foi assassinada.

Anselmo argumentou que foi perseguido pelos militares e chegou a ficar preso dois anos naquele período. A partir da prisão, passou a colaborar com os militares e teria dado informações aos órgãos do regime que levou a prisão e morte de sua própria esposa, a paraguaia Soledad Barret, que estava grávida.

Acredita-se que ele virou agente da ditadura após ser preso em São Paulo em 1971, contudo, desconfia-se entre presos políticos de que ele já atuava para a repressão política antes disso.

Anselmo teve a identidade militar cassada em 1964, quando foi expulso da Marinha. À época, ficou conhecido após protagonizar uma revolta de marinheiros em março daquele ano — episódio foi um dos pretextos usados pelos militares para o golpe de Estado.

Em 2004, ele deu entrada com um pedido de anistia solicitando a reintegração na Marinha e o direito à indenização de anistiado político, que foi negado. Anselmo recorreu da negativa e, em junho de 2020, a ministra Damares Alves indeferiu o recurso de reconsideração.

Em entrevista à coluna Radar, da revista Veja, há menos de dois anos, ele afirmou que afirmou que agiu de dos dois lados, mas que seria justo sua reintegração à Marinha.

“Nem fui ouvido (na comissão). Eu queria somente a isonomia como todos os outros marinheiros, como fui expulso. Fui julgado pela 2ª Auditoria, fui expulso da Marinha, tive meus direitos políticos cassados. Por uma questão de consciência fui viver em Cuba. Resolvi que aquele não era o regime para o Brasil, que era um país cristão. Aí, colaborei realmente com a polícia por dois anos. Mas nunca matei ninguém. Nunca fui nada operacional dentro do trabalho da polícia. Esperava pelo menos a isonomia como aposentadoria. O direito desumano me atingiu”, disse Cabo Anselmo à Veja.

 

Fontes: Metrópoles / Veja