Arquivos são abertos para solucionar crime cometido durante o regime militar
Um verdadeiro “baú de informações” sobre um dos assassinatos mais chocantes cometidos durante o regime militar-civil no Brasil (1964-1985) será entregue formalmente aos membros da Comissão da Memória e da Verdade no estado. Numa solenidade marcada para esta quinta-feira, às 9h, na Secretaria de estadual de Direitos Humanos, o Ministério Público de Pernambuco e o Arquivo Estadual Jordão Emerenciano entregarão pastas e relatórios até então “secretos” guardados pelo poder público a respeito atentado ao padre Antônio Henrique. O sacerdote foi morto, em 1969, e era considerado braço direito do arcebispo de Recife e Olinda, dom Helder Camara (1909-1999), um dos expoentes na luta em prol dos direitos humanos.
O caso do Padre Henrique, assassinado em 1969, deve ser um dos primeiros a ser investigado pela Comissão da Verdade do esstadoO material disponibilizado pelo procurador-geral de Justiça, Aguinaldo Fenelon, contém mais de três mil páginas e está dividido em 13 volumes. As cópias serão entregues ao presidente da Comissão da Verdade, o ex-deputado Fernando Coelho. Entre os documentos, existe um que chama a atenção. Em 1988, o ex-procurador geral Telga Araújo protocolou uma denúncia contra policiais da extinta Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS), que poderiam ter envolvimento no caso. “Apesar dos tempos difíceis, o MPPE não se furtou de cumprir com seu papel de guardião da cidadania”, declarou Fenelon.
Outro material que deve ajudar os membros da Comissão da Verdade está arquivado e foi recentemente digitalizado pelo Arquivo Público. Se trata do prontuário (uma espécie de relatório) com todos passos do padre Henrique, mesmo antes do assassinato, guardado pelo DOPS e entregue ao arquivo no final da década de 80. “São recortes de jornais da igreja católica, a cobertura da imprensa sobre a morte do padre Henrique e as supostas investigações do regime apontado quem seria o culpado pelo atentado”, comenta o jornalista e diretor do arquivo Pedro Moura.
Após a cerimônia na Secretaria de Direitos Humanos, os membros da Comissão da Verdade seguirão para uma reunião com o atual arcebispo de Recife e Olinda, dom Fernando Saburido, no Palácio dos Manguinhos, no bairro das Graças, Zona Norte da capital. Logo em seguida, será oferecido um almoço. Na ocasião, a Comissão vai se colocar à disposição da igreja Católica para solucionar o caso e trocar informações. “Essa documentação e o encontro com o arcebispo é um ato simbólico. O crime do padre Henrique chocou a sociedade pernambucana e estamos em busca da solução”, enfatizou o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Pernambuco (OAB-PE), Henrique Mariano.
Fonte – Diário de Pernambuco