A trajetória de Dom Paulo Evaristo Arns é o tema de uma exposição multimídia realizada no Centro Cultural Correios de São Paulo. “Dom Paulo Evaristo Arns: 95 anos” aborda a atuação social do religioso e a luta contra a tortura praticada pela Ditadura Militar brasileira (1964-1985).
“Nossa ideia foi tentar trazer à tona temas que ainda são atuais, como ética, justiça e democracia”, diz Marilda Ferri, que divide a curadoria da mostra com a jornalista Evanise Sydow. Juntas, elas escreveram a biografia do religioso e decidiram explorar diferentes linguagens, como o teatro e o audiovisual, para atrair o público jovem. “Preservar a memória é preservar a identidade”, diz Ferri.
A mostra tem mais de 1,2 mil metros quadrados de área expositiva, em que recria ambientes que fizeram parte da vida do religioso. Uma das principais atrações é a performance teatral intitulada “Lembrar é Resistir”, em que o público pode caminhar de cela em cela, assim como fizeram os presos políticos dos anos 1960 e 1970, em um ambiente que reproduz o Deops (Departamento de Ordem Política e Social), local em que opositores ao regime eram torturados e presos.
Em outra sala, a mostra remonta a vala clandestina do cemitério de Perus, local onde foram encontradas as ossadas de mais de mil pessoas, entre elas presos políticos desaparecidos. A Catedral da Sé, local em que Dom Paulo realizou celebrações históricas, como o culto ecumênico em memória ao jornalista Vladimir Herzog, em 1975, também foi reproduzida, em um ambiente de 400 metros quadrados.
Relembrando a participação de Dom Paulo na Democracia Corintiana, a exposição reproduz o campo do Corinthians, onde são exibidos depoimentos de ícones do movimento, como os jogadores Sócrates, Casagrande e Basílio. A defesa dos direitos humanos, uma das bandeiras de Dom Paulo durante sua trajetória, é abordada em forma de vídeo, com 30 artigos da Declaração Universal sendo lidos por pessoas de 30 origens diferentes, entre elas refugiados, moradores de rua e artistas, como Criolo, Martinho da Vila e Paulinho da Viola.
Dom Paulo Evaristo Arns morreu em 2016, aos 95 anos, dos quais 76 foram dedicados à vida franciscana. Em 1973, tornou-se cardeal, além de ter sido arcebispo metropolitano de São Paulo de 1970 a 1998. O sacerdote se notabilizou por abrir as portas da igreja para perseguidos políticos, pessoas com HIV e moradores de rua.
A exposição acontece no Centro Cultural dos Correios (Avenida São João, s/nº, Vale do Anhangabaú, centro) e termina no dia 23 de setembro. A mostra está aberta de terça a domingo, das 11 às 17h e tem entrada gratuita