Borboletas e Lobisomens, de Hugo Studart, explica como a Ditadura deu nova identidade para sete jovens
Lançado há menos de um mês, o livro ‘Borboletas e Lobisomens’, do historiador e jornalista Hugo Studart, tem sido alvo de críticas e elogios por revelar detalhes até então obscuros e incômodos sobre a Guerrilha do Araguaia, movimento de luta armada formado pelo PC do B na Amazônia no início da década de 70 para combater o regime militar. Uma das teses defendidas pelo autor, após quase uma década de pesquisa e análise de documentos inéditos e de entrevistas com envolvidos e sobreviventes, é que sete dos 59 desaparecidos estão, na verdade, vivos, com outras identidades.
A hipótese dos mortos-vivos em si não é uma novidade. Já havia indícios de quatro. Studart aponta a existência de sete. Esses jovens foram capturados pelo Exército brasileiro quando tentavam fugir da guerrilha, por fome, medo ou doença. A ordem da ditadura era executar todos os guerrilheiros que fossem encontrados, mesmo os que se entregassem. A não ser por um: Edinho.
Hélio Luiz de Magalhães, Edinho, era filho de um Capitão de Mar e Guerra da Marinha (equivalente a Coronel do Exército) e o comando tinha ordens expressas de entregá-lo vivo à família. Ele foi capturado com outros dois guerrilheiros (Duda, ou Luiz Renê Silveira e Silva e Piauí, ou Antônio de Pádua Costa). Alguns homens da cúpula do Exército, em operação secreta, resolveram poupar não um mas os três: os ajudariam a assumir uma nova identidade com duas condições: de colaboração (delação premiada) e que nunca voltassem à velha vida, e, portanto, nunca fizessem contato com as famílias. Na época, guerrilheiros que virassem colaboradores eram considerados traidores e podiam ser condenados à morte pelo partido.
De acordo com o autor, o período em que Edinho, Duda e Piauí assumiram outras identidades coincidiu com uma troca de comando no País: de Médici para Geisel. Durante a transição, a alta cúpula do Exército ficou sem saber qual seria a conduta em relação aos guerrilheiros capturados: se deveriam todos ser executados, como era a ordem sob Médici, ou se poderiam ser poupados. Nesse contexto, além dos três já citados, o comando do Exército teria poupado e auxiliado a transição para uma nova vida de mais quatro guerrilheiros: Rosinha (Maria Célia Corrêa), Ari Armeiro (Marcos José de Lima), Josias (Tobias Pereira Júnior) e Tuca (Luiza Augusta Garlippe).
Dos sete, há indícios que não teriam procurado as famílias Edinho (procurou o pai, já falecido, mas nunca a mãe) Duda, Rosinha e Tuca. Para os outros três, Piauí, Josias e Ari Armeiro, há indícios que poderiam estar com as suas famílias. Algumas famílias, por sinal, nunca procuraram o governo para pedir indenizações ou tentar localizar seus parentes desaparecidos, apenas enterraram o assunto e não dão entrevistas. Já a família de Duda, que não fez contato, rechaça a tese de que ele possa estar vivo. Elizabeth Silveira e Silva, vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais, não acredita que seu irmão Duda possa ter sobrevivido à execução e qualifica as informações como caluniosas.
Para Studart, o ideal seria que a Polícia Federal seguisse na investigação dos ‘mortos-vivos.’ Em janeiro de 2011, o Ministério da Defesa e a AGU pediram à Justiça Federal que a PF investigue os ‘mortos-vivos’. A juíza Solange Salgado, da 1ª Vara da Justiça Federal em Brasília, acatou o pedido. Mas, por pressão de familiares, a investigação não começou ainda. Na ordem, a juíza pede a investigação sobre Edinho, Duda, Piauí, Áurea e Dina. Ao longo de suas pesquisas, Studart descobriu que Áurea e Dina teriam sido executadas e Rosinha, Ari, Josias e Tuca poupados.
Fonte – R7