O que nos lembram sobre João Goulart?

Muito se fala sobre a necessidade da abertura dos arquivos da ditadura civil-militar (1964-1985). Uma Comissão da Verdade foi escolhida para analisar a viabilidade desse processo. Cada vez mais grupos se manifestam a favor dessa abertura com a intenção de alcançar esclarecimentos e revelar a “verdade” a respeito de diversas lacunas existentes sobre o que se passou naquele período. As memórias sobre a ditadura civil-militar são um campo de várias disputas políticas. Entre essas disputas há uma figura que não podemos esquecer. Trata-se do ex-presidente do Brasil, João Goulart, alguém depreciado tanto pelos grupos mais conservadores quantos pelos mais radicais.

João Goulart

Passados 48 anos desde a deposição de Jango, apelido do ex-presidente, ainda há uma grande tendência a vê-lo negativamente. Goulart era um reformista e queria desenvolver as estruturas socioeconômicas do país, além de ampliar os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais. As Reformas de Bases, como a Reforma Agrária e outras reformas sociais, eram necessárias – e em parte ainda continuam sendo – para que o país se desenvolvesse e a população brasileira alcançasse um melhor bem-estar social. Goulart não pretendia instalar um regime comunista no Brasil como o acusaram.

Contudo, após sua deposição em 1964, foi rotulado como um político fraco, incapaz, demagogo, conciliador, traidor da nação, comunista e, até mesmo, incoerente. Essas imagens negativas de Goulart acabaram se cristalizando na memória dos brasileiros a tal ponto que antes do Governo Lula (2003-2010) surgiram críticas que comparavam os dois ex-presidentes, Goulart e Lula, como “populistas” e alertavam para os perigos que um novo “Jango” traria à democracia em nosso país.

Enquanto alguns lutam por “verdades” a respeito dos crimes cometidos durante a ditadura civil-militar, evidenciamos a relevância de se resgatar não uma “verdade” histórica sobre quem foi Jango. Pois, isso não é possível. Mas, alertamos que insistir em rememorá-lo pejorativamente é negar um papel fundamental para o entendimento de parte da história do Brasil contemporâneo.  Historiadores têm discutido a trajetória de Goulart de forma menos preconceituosa que no passado. Buscam compreendê-lo sem vitimá-lo ou idolatrá-lo. Contudo, aos nos debruçarmos sobre os livros didáticos ainda “lemos” um Jango estereotipado, cuja contribuição para a História do Brasil se resume no fato de ter sido o presidente deposto por civis e militares em 1964.

Em tempos que a cidadania é cada vez mais discutida não podemos nos equivocar culpando unicamente Jango pela instalação da ditadura civil-militar em nosso país. Devemos lembrar que Goulart não governou sozinho. Fez parte de uma sociedade que discutia e atuava sobre os rumos da política brasileira. Estudantes, sindicalistas e camponeses são exemplos de grupos de grande atuação política na época. Já que tanto se deseja a abertura e análise dos arquivos da ditadura civil-militar, por que não se começa a rever a trajetória política de Jango com olhares menos preconceituosos para não esquecer suas importantes contribuições para a História do Brasil.

 

“Saiba Mais”

Recomendamos o filme “Jango” (1984) de Silvio Tendler e também o livro “João Goulart: uma biografia” de Jorge Ferreira para aqueles que desejarem se aprofundar na temática abordada.

Eduardo Augusto Santos Silva é graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe. Integrante do Grupo de Pesquisa Culturas, Identidades e Religiosidades (GPCIR).

* Eduardo Augusto Santos Silva é graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe. Integrante do Grupo de Pesquisa Culturas, Identidades e Religiosidades (GPCIR).

 

Fonte – Infonet

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