Após “Estado” revelar fotos de guerrilheiro morto em 1972, grupo decide reabrir caso e tentar localizar restos mortais em cemitério
A Comissão da Verdade decidiu ontem reabrir o caso da morte do guerrilheiro Ruy Carlos Vieira Berbert, morto aos 24 anos, em janeiro de 1972, na cadeia pública de Natividade, município hoje pertencente ao Estado do Tocantins, como mostram fotos reveladas pelo Estado. É o primeiro caso reaberto pelo grupo instalado em maio pela presidente Dilma Rousseff. A comissão volta a se reunir hoje para tratar das formas para realizar uma nova busca dos restos mortais de Berbert no cemitério de Natividade, onde o corpo foi enterrado em 1972.“O caminho agora é tentar localizar os restos mortais, pois a morte já foi constatada nas fotografias divulgadas pelo jornal”, disse o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Gilson Dipp, integrante do grupo. Ele afirmou que a comissão desconhecia o fato de o Arquivo Nacional guardar imagens importantes para esclarecer a morte de um prisioneiro do Estado.
“Não tínhamos noção de que o Arquivo Nacional guardasse essas imagens. Vamos mapear todos os documentos para avançar”, disse. “É a primeira vez que se divulgam essas fotografias.”
DNA. Dipp também destacou a importância de providenciar material de DNA para uma eventual localização dos restos mortais. “É preciso discutir quais providências serão tomadas de um caso com o qual nos deparamos pela primeira vez”, disse. O presidente da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos, Marco Antonio Barbosa Rodrigues, que assessora a Comissão da Verdade, quer pedir a coleta de material genético de familiares de Berbert.
Na reunião de ontem, os integrantes da comissão disseram que as fotos de Ruy Berbert chocaram especialmente porque a morte do guerrilheiro ocorreu em dependências do Estado.
O grupo ainda analisou reportagem do Estado sobre um relatório secreto da Polícia Federal que informou que o médico Colemar Rodrigues de Cerqueira, de Natividade, se recusou a fazer a autópsia de Berbert.
As circunstâncias das mortes de guerrilheiros são prioridade da comissão. Além das fotografias, o grupo vai avaliar documentos da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos da Secretaria de Direitos Humanos relativos ao caso Berbert.
Na reunião de ontem, o grupo também discutiu o aparelho de repressão e centros de tortura no governo militar. Os integrantes assistiram a uma apresentação da historiadora Heloísa Starling, da Universidade Federal de Minas Gerais, que fez um levantamento sobre operações militares na região do Araguaia, onde ocorreu a guerrilha do PC do B.
A comissão colocou em debate a série de reuniões que terá com setores da sociedade civil em agosto, no Rio e em São Paulo, e em setembro, no Recife. Está previsto um encontro em 30 de julho, em Brasília, com integrantes das Comissões da Verdade estaduais e municipais.
Fonte – O Estado de S.Paulo