Mais um militar é denunciado por desaparecimento de guerrilheiro

O Ministério Público do Pará denunciou mais um militar por sequestro durante a guerrilha do Araguaia. O major da reserva Lício Augusto Maciel é acusado pelo sequestro de Divino Ferreira de Sousa, único de quatro guerrilheiros que foi levado vivo às dependências do Exército após confronto com militares em 1973, no Sul do Pará, durante a Operação Marajoara, de repressão à guerrilha. Na época, o major usava o codinome de “doutor Asdrúbal”.

Esta é a segunda ação penal movida pelo MPF contra militares envolvidos na repressão à guerrilha do Araguaia. O primeiro denunciado foi Sebastião Curió. A denúncia não foi aceita pela primeira instância – a Justiça Federal de Marabá – mas o MPF está recorrendo. Para o MPF, os crimes de sequestro praticados durante o regime militar não estão prescritos ou cobertos pelo manto da anistia por serem crimes permanentes, de acordo com decisões do próprio Supremo Tribunal Federal brasileiro e também da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Segundo o MPF, Divino foi emboscado no dia 14 de outubro de 1973 pelos militares chefiados por Lício. O guerrilheiro estava junto com André Grabois (Zé Carlos), João Gualberto Calatroni (Zebão) e Antônio Alfredo de Lima (Alfredo). O militares atiraram e três guerrilheiros foram mortos.

Divino foi levado com vida para a base militar da Casa Azul, em Marabá, e interrogado. Segundo o MPF, ele foi submetido a grave sofrimento físico.

Depois do interrogatório, não foi mais visto. O militar José Vargas Jimenez, que escreveu um livro sobre a repressão à guerrilha, confirmou o sequestro em depoimento oficial às autoridades brasileiras. Ele disse que Divino foi capturado com vida e levado para as dependências do Exército. Também foi relacionado como testemunha Manoel Leal Lima, o Vanu, que servia de guia para os militares.

Vanu afirmou que os militantes estavam abatendo porcos para a alimentação no momento da captura e poderiam ser rendidos facilmente, mas foram mortos.

As duas testemunhas contam que os outros três militantes do PCdoB foram enterrados. Segundo Jimenez, um dos corpos teve o dedo cortado por um soldado, que descarnou o dedo e passou a usar o osso do guerrilheiro como amuleto.

Segundo os procuradores, Lício Augusto Maciel teve participação inequívoca nos crimes relatados na denúncia e reconheceu essa participação em depoimento prestado na Justiça Federal do Rio de Janeiro, em 2010.

Segundo o MPF, a Operação Marajoara marcou a adoção sistemática de medidas ilegais e violentas, com sequestros e execução sumária dos militantes. “Não há notícias de sequer um militante que, privado da liberdade pelas Forças Armadas durante a Operação Marajoara, tenha sido encontrado livre posteriormente”, relata a denúncia do MPF.

A denúncia contra Lício é assinada pelos procuradores da República Tiago Modesto Rabelo, André Casagrande Raupp, Melina Alves Tostes e Luana Vargas Macedo, de Marabá, Ubiratan Cazetta e Felício Pontes Jr., de Belém, Ivan Cláudio Marx, de Uruguaiana, Andrey Borges de Mendonça, de Santos, e Sergio Gardenghi Suiama e Marlon Alberto Weichert, de São Paulo. A ação contra Lício Augusto Maciel tramita na 2ª Vara da Justiça Federal de Marabá.

 

Fonte – Diário de Pernambuco

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