Diante de um pedido da Folha visando reconstituir os fatos de então, o Exército responde que foram destruídos todos os relatórios e todos os demais documentos a respeito produzidos por sua Inteligência. E que a destruição era permitida pela legislação da época – ainda a herdada da ditadura militar.
São duas coisas. Primeiro, é preciso, urgentemente, esclarecer e punir esses casos de destruição de documentos. Senão a Comissão da Verdade não terá como investigar nada ligado ao Exército que alega que os documentos foram destruídos e que a legislação permitia. Ou então terá enorme dificuldade para apurar os acontecimentos passados.
Outra coisa é que, mesmo com todas as dificuldades criadas pelo Exército e por quem mais se recuse a prestar as informações, como determina a lei, vai depender da capacidade que tivermos de encontrar outros documentos, de reconstituir os fatos com base em testemunhos e depoimentos de pessoas que até agora não haviam se manifestado, como tem acontecido em outros eventos lidados ao desaparecimento de militantes políticos e mesmo da Guerrilha do Araguaia. É um processo de reconstituição da memória da época, com testemunhos dos envolvidos.
Assim como no caso dos crimes durante a ditadura, os acontecimentos como este da invasão da CSN têm que ser esclarecidos. Pelo menos para fazer a responsabilização histórica de fatos como esse, da invasão da CSN.
Saldo: três operários mortos e dezenas de feridos
O caso de Volta Redonda aconteceu no dia 9 de outubro de 1988, quando o Exército invadiu a siderúrgica para por fim a uma greve iniciada dois dias antes e matou a tiros três metalúrgicos, deixando dezenas de feridos. Foi a maior crise militar dos cinco anos de governo Sarney e a interpretação à época é que se constituiu em contribuição decisiva para a eleição da prefeita Luiza Erundina seis dias depois.
O caso veio à baila agora porque a Folha pediu a documentação para elucidar um dos maiores mistérios do episódio: se o presidente da República à época, José Sarney, ordenou ou não a invasão, se concordou com ela, ou quem a determinou. Sarney não fala sobre o episódio, nem antes nem agora.
Ainda em 1988, um mês depois da invasão, a informação era que as Forças Armadas invadiram a siderúrgica em cumprimento a uma ordem judicial. A OAB nacional argumentou, então, que a invasão podia culminar num pedido de impeachment do presidente Sarney “por despreparo” do governo em lidar com a situação. Mas não veja que fosse razão para impedimento de presidente, senão vamos ficaríamos igual ao Paraguai…
A negativa de agora e sob o mesmo argumento – não há mais documentos a respeito do episódio – é do 2ª Exército. Antes ele alegou o mesmo para não fornecer documentos sobre a Guerrilha do Araguaia. E ninguém toma providências a respeito. A Força é inatingível, pelo visto.
Bartolomeu Citeli, dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de Volta Renda quer a “responsabilização criminal dos militares” pela invasão. O advogado João Nery Campanário, que na época trabalhava para o sindicato dos metalúrgicos de Volta Redonda, acha que a invasão só poderia ter ocorrido com a autorização do presidente. Mas não há, até agora, qualquer documento a respeito.
Fonte – Correio do Brasil