Caravana da Anistia: perseguidos no Rio de Janeiro são anistiados em evento na PUC
Na última sexta-feira, 17 de agosto, a Caravana da Anistia, realizada na PUC do Rio de Janeiro, declarou anistiados políticos sete perseguidos pelo Estado durante a ditadura.
A filha do já falecido professor da UFRJ, Lincoln Bicalho Roque, Tatiana Roque recebeu o certificado de anistia de seu pai. Em depoimento comovente, ela afirmou que o pai perdeu o emprego que tinha no Sesc e na UFRJ, em virtude do AI-5. “A família soube da morte pelo Jornal Nacional e o laudo desconheceu a tortura. A televisão disse que ele tinha sido morto ao reagir e no IML as análises mostraram que não houve resistência pelas perfurações por bala”. Lincoln foi encontrado com 15 tiros.
Tatiana contou que perdeu sei pai ainda pequena com 3 anos e não se lembrava de como ele era. “Eu vi meu pai pela primeira vez por meio de um filme do Cacá Diegues recuperado, depois da enchente do MAM. Eu vi ele falando, abraçando minha mãe, coisas que eu nunca tinha visto”, contou à plateia. (Assista ao vídeo com depoimento de Tatiana Roque)
A viúva do militar tenente-coronel Alfeu de Alcântara Monteiro, Neyde Monteiro, morto em quatro de abril de 1964 por um coronel dentro do quartel da Aeronáutica também recebeu o certificado de anistia do marido. Alfeu trabalhava na base aérea de Canoas – RS e pertencia ao movimento legalista contrário ao Golpe. Ao resistir em defesa da democracia foi morto. Sua morte já havia sido reconhecida como uma responsabilidade do Estado pela Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos.
Alfeu já havia participado dos atos militares nacionalistas que se colocaram a favor da posse do então vice-presidente Joao Goulart, quando da renúncia do presidente Jânio Quadros. Do alto dos seus 93 anos, Neide agradeceu a homenagem e disse que esperava por isto há 40 anos..
O professor José Grabois também recebeu anistia. Ele foi demitido arbitrariamente de quatro concursos públicos e teve 21 anos de projeto de vida interrompido. Grabois era sobrinho de Maurício Grabois, um dos fundadores do Partido Comunista do Brasil e é o sexto membro da família Grabois a ser anistiado político.
Outro anistiado post morten foi Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira membro da Ação Popular Marxista-Leninista e desaparecido. Em decorrência da prisão de vários companheiros da organização, em 1973 mudou-se para São Paulo, juntamente com sua família e o filho recém-nascido. Durante o carnaval de 1974 foi ao Rio de Janeiro visitar seu irmão, ao sair de casa avisou que ia encontrar um companheiro e estaria de volta duas horas depois. Nunca mais foi visto. (Assista ao depoimento do irmão de Fernando, Marcelo Santa Cruz).
“O desaparecido político você não consegue materializar a morte e por uma defesa psicológica você tende a não acreditar que a pessoa tenha morrido e acredita que a pessoa vai aparecer. As sacolas entregues por familiares no DOI-CODI com o nome incompleto de Fernando foram depois devolvidas com a inscrição completa do nome revelando a contradição dos que disseram que ele não estava preso”, relatou ao público.
A mãe de Alex de Paula Xavier Pereira e Iuri Xavier Pereira, Zilda Paula, também recebeu a anistia dos filhos, ela não pediu reparação econômica. A família passou a viver na clandestinidade depois que o apartamento foi invadido. Iuri e Alex treinaram guerrilha em Cuba e foram militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e da Ação Libertadora Nacional (ALN). Yuri foi assassinado em junho de 1972 após uma emboscada. Alex foi morto em janeiro de 1972 e enterrado com outro nome.
Militante da Ação Popular, a professora Marilea Venâncio Porfírio, foi sequestrada e presa no DOPS por dois meses, onde foi torturada, em 2 dezembro de 1971, e também recebeu anistia. Marilea teve os direitos políticos perdidos por 10 anos e somente em 1974, começou a ter uma vida mais tranqüila. (Assista vídeo com Marilea Porfírio)