Comissão da Verdade solicitará documentos a embaixadas de outros países

Grupo de Trabalho da “Operação Condor” começou atividades para apurar crimes da ditadura no RS

Comissão da Verdade solicitará documentos a embaixadas de outros países

O Grupo de Trabalho (GT) Operação Condor, que vai investigar a cooperação militar de órgãos de inteligência das forças armadas na América do Sul durante as ditaduras militares, recebeu a imprensa neste domingo, em Porto Alegre. Coordenadora do GT, a advogada Rosa Maria Cardoso da Cunha revelou que eles irão apurar todos os arquivos referentes ao período, compreendendo estruturas das forças armadas e ligadas ao Itamaraty. Uma destas é o Ciex (Centro de Informações do Exterior). Conforme Rosa, documentos serão requeridos a embaixadas e consulados de países como Chile, Argentina e Uruguai em território brasileiro. Integrantes da Comissão da Verdade também viajarão para países vizinhos para buscar documentos nas embaixadas do Brasil.

“Pretendemos descobrir o que aconteceu com brasileiros que se refugiaram em outros países. Também já há solicitação de documentos produzidos no Ciex e outros órgãos. O próprio Ministério da Defesa faz uma análise da nossa solicitação sobre o envio de arquivos. Durante a ditadura, as leis não previam a destruição de documentos sem que não fossem produzidas atas e a assinatura dos responsáveis pela autorização ou destruição. Por isso, acreditamos que não houve a eliminação de arquivos”, relatou Rosa Cardoso da Cunha. O GT Condor tem apoio do jornalista gaúcho Luiz Cláudio Cunha, autor do livro “Operação Condor: o Sequestro dos Uruguaios” no qual relata a prisão e sequestro de Universindo Dias e Lilian Celiberti por policiais uruguaios e brasileiros, no final da década de 70, em Porto Alegre.

Conselheiro do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), Jair Krischke será o primeiro a ser ouvido pelo GT. Entre as décadas de 70 e 80, o MJDH conseguiu evitar o desaparecimento e a morte de cerca de 2 mil militantes de esquerda na América do Sul. Para ele, a publicidade dos arquivos de órgãos como SNI, Cenimar, Ciex e de outras estruturas que atuaram conjuntamente no monitoramento, prisão, desaparecimento, tortura e morte de pessoas é imprescindível para o esclarecimento de fatos ainda desconhecidos das autoridades. “O Brasil foi responsável pela formação de quadros militares repressivos em todos os países da região, como Argentina, Chile e Uruguai. No Itamaraty, por exemplo, é o embaixador Pio Corrêa que cria o Ciex”, citou Krischke.

O Ciex teve papel fundamental como um serviço de inteligência que monitorava brasileiros fora do país, segundo ele. “Em 1975, quando é formalizada a Operação Condor em uma reunião das forças armadas dos países sulamericanos no Chile, o Brasil envia dois representantes, mas não assina a ata da reunião. Naquela época, o Brasil já havia aniquilado toda a resistência armada, como o caso do Araguaia. A ditadura brasileira operou sutilmente, treinando militares de outros países”, disse.

A Operação Condor é considerada a mais terrível ação cooperativa entre forças armadas para exterminar grupos de resistência a golpes militares. A troca de informações, prisões e assassinatos ocorreram do início de 1970 até 1989, mesmo depois da Lei de Anistia (1979) e do fim do Regime Militar brasileiro (1985). Estimativas dão conta de que pelo menos 10 mil pessoas desapareceram ou foram assassinadas por militares brasileiros, chilenos, uruguaios, argentinos, bolivianos e paraguaios. Nesta segunda-feira, a advogada Rosa Cardoso terá reunião com a Comissão da Verdade gaúcha e com familiares de vítimas da Operação Condor.

 

Fonte – Correio do Povo

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