Homenagem à memória e ao legado de Maurício Grabois Por Adalberto Monteiro

A Fundação Maurício Grabois, em 2 de outubro de 2012 – quando se comemora o centenário de nascimento do seu patrono –, reverencia a sua memória e enaltece o exemplo de revolucionário e o fértil legado ao Brasil e ao povo.

Personagem de múltiplos talentos, larga cultura, capaz de desempenhar diferentes tarefas, Maurício Grabois iniciou sua profícua contribuição para um Brasil independente e avançado em 1932, atuando como soldado no 1º Regimento de Infantaria do Rio de Janeiro e responsável nacional pelo setor de comunicação da Federação da Juventude Comunista. Desde os 20 anos de idade ele abraçaria os ideais do socialismo que nortearam por inteiro sua vida e sua intrépida atividade política.

Como membro do Partido Comunista do Brasil, tomou parte das ações insurrecionais comandadas pela Aliança Nacional Libertadora (ANL) em 1935. Posteriormente, na primeira metade da década de 1940 – quando, aqui, a ditadura do Estado Novo pisoteava a liberdade e, no mundo, o nazifascismo ceifava milhões de vidas –, Grabois foi um dos líderes das memoráveis campanhas que democratizaram o país e se opuseram tenazmente à peste nazista. Nas eleições de 1945, o povo, reconhecendo a contribuição da legenda dos comunistas naquelas épicas jornadas, elegeu 15 lideranças do Partido, entre elas, Maurício Grabois. Ele exerceu com brilhantismo seu mandato na Assembleia Nacional Constituinte de 1946 e na Câmara dos Deputados. Seus camaradas – entre eles, Luiz Carlos Prestes, João Amazonas, Carlos Marighela, Gregório Bezerra, Jorge Amado, – designaram-no como líder da bancada do Partido na Câmara dos Deputados no final de 1946, no curso de1947 e no início de 1948, quando, arbitrariamente, os mandatos comunistas foram cassados.

Na década seguinte, a defesa da democracia, dos direitos dos trabalhadores, da paz e da independência nacional teve em sua atuação uma referência, assim como se realça o seu aporte na vigorosa presença do Partido Comunista do Brasil no cenário político nacional.

No período de 1956 a 1962, se deu no interior do Partido Comunista do Brasil um acirrado confronto teórico, político e ideológico no qual estava em jogo a própria essência revolucionária do histórico Partido fundado em 1922. Esse conflito se tornou mais agudo com os impactos de uma crise no âmbito do movimento comunista mundial advinda do XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética. Formaram-se, no Partido, duas correntes antagônicas: uma alinhada em teses que revisavam o marxismo e comprometiam seu gume revolucionário; e outra que se opunha a tal revisão e defendia os princípios e a essência transformadora do marxismo. Maurício Grabois, ao lado de João Amazonas e Pedro Pomar, dentre outros, se destacava na liderança desta última corrente que, em fevereiro de 1962, teve a ousadia e a sagacidade de protagonizar um episódio de alcance histórico: empreendeu a reorganização do Partido Comunista do Brasil. Essa tomada de posição é que assegurou ao PCdoB, na contemporaneidade, uma trajetória de crescente força.

Com o golpe militar de 1964, mais uma vez a história o convocaria para enfrentar um regime tirano. E quando – sobretudo a partir do final de 1968 – a ditadura militar assumiu uma feição terrorista, uma parcela do campo patriótico e da esquerda concluiu que se impunha a resistência armada pela conquista da liberdade. O PCdoB então organiza nas selvas da Amazônia, no sul do Pará, a Guerrilha do Araguaia. Maurício Grabois que sempre tinha nas mãos uma caneta passa a empunhar um fuzil, na condição de Comandante da resistência armada que se deu nas terras banhadas pelo rio Araguaia. No Natal de 1973, tombou, como um bravo, como um guerreiro dos mais nobres ideais da humanidade. As tropas da ditadura tiraram-lhe a vida, mas as sementes da causa da liberdade e do progresso social que lá ele e os guerrilheiros e guerrilheiras plantaram até hoje geram árvores frondosas.

Nesta passagem do seu centenário, a Fundação Maurício Grabois rende-lhe as mais elevadas homenagens. Estamos certos de que seu exemplo de combates e suas ideias, que têm guiado em grande medida a luta democrática em nossa terra, são luzes que irão iluminando a grata missão de fazer com que o Brasil seja cada vez mais uma nação democrática, soberana e em marcha para o socialismo.

A Fundação, instituída pelo Partido Comunista do Brasil, proclama a alta honra de ostentar o nome desse herói do povo brasileiro. Honra que nos impulsiona e nos anima para realizar com denodo nossas finalidades, nas quais se destaca a elaboração de ideias, de conhecimento, com base na teoria marxista e no pensamento avançado de nosso tempo, para iluminar e fazer avançar a jornada libertadora e revolucionária dos trabalhadores e da Nação. Trabalho a que Maurício Grabois tanto se dedicou e para o qual tanto contribuiu.

Ergamos ao alto as taças cheias de vinho e de alegria! Salve, salve o centenário de Maurício Grabois! A atual grave crise mundial do capitalismo do qual Grabois foi um ferrenho e erudito crítico, e a alternativa do socialismo que se revigora no curso de uma nova luta, demonstram a força e a justeza de suas ideias e de suas escolhas. O ciclo de conquistas e realizações que o Brasil atravessa desde 2003, o fortalecimento da luta do povo e dos trabalhadores e a força crescente do Partido Comunista do Brasil – sua grande obra – têm, neste início da segunda década do século 21, na geração de bravos, da qual Grabois era destacada liderança, os semeadores dessa época fecunda e promissora que, hoje, o país vive.


Por Adalberto Monteiro – presidente da Fundação Maurício Grabois

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