Material estava em poder de ex-chefe do DOI-Codi morto em Porto Alegre. Ex-deputado federal desapareceu em 1971, durante o regime militar.
Governador do Rio Grande do Sul falou sobre o caso Rubens Paiva nesta sexta-feira (Foto: Claudio Fachel/Palácio Piratini Divulgação)O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, afirmou nesta sexta-feira (23) que os documentos encontrados pelo Polícia Civil em Porto Alegre comprovam que o ex-deputado Rubens Paiva foi assassinado por agentes da repressão durante o regime militar. O registro será entregue a integrantes da Comissão da Verdade na próxima terça-feira (27).
Os documentos foram obtidos pela Polícia Civil durante a investigação do assassinato do coronel da reserva do Exército Julio Miguel Molina Dias, 78, morto a tiros em 1º de novembro, em Porto Alegre, quando chegava em casa. Ele foi chefe do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), no Rio de Janeiro.
“Temos aqui em poder da nossa Polícia Civil documentos que comprovam que o ex-deputado Rubens Paiva foi sequestrado e covardemente assassinado pelos agentes da ditadura militar”, afirmou Tarso, durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES-RS).
Ao lado da ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, o governador gaúcho recordou que, na época em que era ministro da Justiça, entre 2007 e 2010, promoveu debate sobre a necessidade de revisão da Lei da Anistia. Ele defendia que ele não se aplicasse aos crimes de tortura.
“Naquela oportunidade, vários delitos estavam na nossa cabeça. Um deles era a afirmação feita de maneira permanente pela família, pelos presos políticos e pela oposição ao regime militar, de que o deputado Rubens Paiva tinha sido sequestrado por delinquentes, das estruturas paralelas ou oficiais do regime, e teria sido assassinado”, lembrou Tarso.
Todo o material será entregue na próxima terça-feira às comissões estaduais e nacional da Verdade, de acordo com a Casa Civil do governo gaúcho. Com a documentação em mãos, a Comissão Nacional da Verdade deverá designar um relator para investigar o caso do preso político Rubens Paiva, informou a assessoria de imprensa do colegiado.
O documento e a reviravolta no caso vieram à tona após reportagem publicada pelo jornal Zero Hora. No registro obtido pelo jornal, há indicação da entrada de Rubens Paiva no QG-3, no Rio de Janeiro, e dos documentos e pertences pessoais que ele portava no momento da prisão. Na margem do documento, havia uma assinatura, possivelmente de Rubens Paiva. Além disso, outros papeis podem ajudar a esclarecer outro episódio até hoje obscuro do período da ditatura, o atentado ao Riocentro, em 1981.
Em março de 2012, a reportagem especial Rubens Paiva – Uma história inacabada, veiculada pelo canal Globo News (veja o vídeo ao lado), contou a história do desaparecimento do político paulista, sequestrado em frente à família e levado para órgãos de segurança, onde, segundo testemunhas, foi barbaramente torturado.