Comissão da Verdade fará “varredura” em cemitérios

A busca pela “verdade” chega aos cemitérios. Na tentativa de resgatar um dos episódios emblemáticos de perseguição durante o regime militar no Brasil (1964-1985), a Comissão da Verdade de Pernambuco deferiu o pedido da relatora do caso da ex-militar Anatália de Souza Melo, Nadja Brayner, de iniciar uma varredura póstuma à procura do paradeiro dos restos mortais da ex-militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). O oficio solicita um levantamento dos sepultamentos ocorridos nos cemitérios de Recife, Olinda, Paulista, Jaboatão dos Guararape, São Lorenço e Camaragibe, entre a data de 22 e 30 de janeiro de 1973.

Antatália de Souza Melo faleceu no dia 21 de janeiro de 1973 enquanto estava presa sob custóa do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), órgão subordinado ao Exército, de inteligência e repressão do governo brasileiro durante o regime militar. O laudo de morte da ex-prisoneira consta que a causa de morte foi suicídio por enforcamento, mas detalhes mal esclarecidos no caso e depoimento de testumunhas puseram sob suspeita a veracidade do documento. Na época a imprensa registrou fotos do corpo da Anatália deitado no chão e com marcas de queimadura na região pélvica. Nenhuma foto da suposta cena de suicídio foi registrada.  

Segundo descrição contida em laudo, Anatália teria pedido ao carcereiro para tomar banho e no banheiro se enforcou com a alça da própria bolsa de couro. Durante a sessão pública ocorrida nesta terça-feira (27) no auditório do Tribunal de Contas do Estado, a relatora do caso destacou contradições no caso. “Não estamos convencidos de que foi suicídio.

Encontramos marcas de queimadura na região pubiana. Os restos mortais não foram entregues e não existe atestado de óbito. Não se sabe sequer do sepultamento do corpo”, reclama Nadja. Em primeiro momento, Nadja Brayner lembrou que os presos políticos não ficavam com nenhum pertence prórprio, principalmente com a bolsa e os documentos. Outro ponto questinado foi a presença de queimaduras não explicadas no corpo a ex-militante.

A comissão pretende ir em buscas de mais detalhes do caso para realizar uma segundo sessão, ainda sem data para acontecer. “Queremos esclarecer esse caso, achar o corpo e receber um atestado de óbito com a causa verdadeira de morte”, exclamou a relatora.

Depoimentos
O viúvo de Anatália, Luis Alves Neto, prestou um dos depoimentos mais importantes para o esclarecimento do caso. Segundo ele, meses após o falecimento da esposa, um homem que se identificou como militar, chegou a casa da família da ex-militante, em Mossoró no interior do Rio Grande do Norte, e entregou ao irmão da vítima uma urna lacrada. O oficial teria dito que lá estavam os restos mortais de Anatália, mas que ninguem poderia abri-la.

Segundo Luis, ainda sob o medo da repressão militar os familiares acataram a ordem. Como também não se pode ter certeza de que os ossos contidos na urna sejam realmente de Anatália, a relatora do caso solicitou a busca pela referida urna e um exame de DNA para o reconhecimento dos ossos. Luis era militante e foi preso junto a esposa.

“Apesar de muito abatida, ela não demonstrou que queria tirar a vida”, afirmou. “Ouvi muito baralho vindo do banheiro no dia. Barulho fortes e violêntos. Não podia imaginar que era a minha esposa que estava lá dentro”, lamenta a lembrança. Outros depoimentos relevantes para o esclarecimento do caso foram o dos companheiros de cela no  eríodo José Adeildo Ramos e Edimilson Viturino Miranda.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *