Autores da morte de Rubens Paiva poderão ser identificados

O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Cláudio Fonteles, divulgará em fevereiro relatório que, segundo ele, ajudará a identificar os responsáveis pela morte do ex-deputado federal Rubens Paiva, desaparecido há 42 anos pela ditadura militar.

Na semana passada, Fonteles já havia anunciado que o texto de sua autoria comprovará, com base em documentos do Arquivo Nacional, que Paiva foi morto por agentes da ditadura no DOI-Codi –um dos principais centros de repressão do regime–, no Rio de Janeiro.

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Apesar de não identificar os autores do assassinato, o coordenador afirma que os novos documentos ajudarão a chegar até eles e que esse é o objetivo de suas pesquisas. “Pode se chegar sim [a essas pessoas], esses textos vêm para isso”, disse Fonteles.

Em novembro, foi descoberta a ficha de entrada de Rubens Paiva em uma unidade do DOI-Codi no Rio.

O documento estava na casa de Júlio Miguel Molinas Dias, um coronel da reserva que comandou o órgão nos anos 1980 e foi assassinado em Porto Alegre em 2012.

Até então, não havia prova documental da presença do ex-deputado na unidade militar, apenas testemunhos.

Agora, o coordenador da Comissão da Verdade afirma que novos documentos originários dos centros de informações das Forças Armadas e encontrados no Arquivo Nacional, em Brasília, desconstruirão a versão oficial para o desaparecimento de Paiva.

Eunice Paiva, viúva do ex-deputado Rubens Paiva (à esq., em retrato de 1970), em sua casa em São Paulo

Dos quatro documentos que ele analisa há quase dois meses, um será “novidade absoluta”, afirma.

Junto com os documentos sobre Paiva, Fonteles também divulgará um novo capítulo de seu estudo sobre a estrutura do Estado ditatorial militar, um texto sobre outra personalidade do período, entre outros relatórios.

DESAPARECIMENTO

Deputado federal eleito pelo PTB e crítico do regime militar, o engenheiro Rubens Paiva teve o mandato parlamentar cassado pelo AI-1 (Ato Institucional nº 1), em 1964, e os direitos políticos suspensos por dez anos.

Em 20 de janeiro de 1971, Paiva foi procurado por agentes da ditadura em sua casa e levado para prestar depoimento no DOI-Codi da Tijuca, zona norte do Rio. Tinha 41 anos. Desde então, nunca mais foi visto pela família.

A versão oficial sustentada pelo Exército é a de que o ex-deputado fugiu dos militares quando era levado para o reconhecimento de um local na cidade. Relatos de testemunhas, contudo, indicam que Paiva morreu sob tortura.

Esta também é a hipótese mais provável na opinião de familiares, como Vera Paiva, filha do ex-deputado.

Ela afirma que a forma que encontrou de homenagear a memória do pai é denunciar as violações aos direitos humanos que, segundo ela, ainda acontecem no país.

“As prisões e os desaparecimentos arbitrários continuam. Todo dia tem notícia desse tipo de ação”, disse.

A defesa pela garantia dos direitos fundamentais, afirma, foi o que motivou a morte do pai. “Meu pai não morreu por nada. Ele morreu porque defendia isso.”

 

Fonte – Folha de S.Paulo

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