Rubens Paiva desapareceu no dia 20 de janeiro de 1971, quando foi levado de casa por uma equipe supostamente da Aeronáutica. Entre esse dia e o dia seguinte, ele foi transferido para a Barão de Mesquita. O médico militar Amilcar Lobo alegou ter cuidado do ex-deputado, que sofreu hemorragia interna após ser submetido a torturas. Mas as forças de repressão, na época, alegaram que Paiva teria sido sequestrado quatro dias depois por desconhecidos no Alto da Boa Vista (Zona Norte).
Em novembro do ano passado, a Polícia gaúcha descobriu nos arquivos pessoais do coronel Júlio de Sá Molinas Dias, ex-comandante do DOI, assassinado naquele mês, documentos que lançaram luz sobre o destino do ex-deputado. Um deles, ofício do DOI denominado “Turma de Recebimento”, contém o nome completo do político, de onde ele foi trazido (o QG-3), a equipe que o trouxe (o CISA, o Centro de Inteligência da Aeronáutica), a data (20 de janeiro de 1971), seguido de uma relação de documentos, pertences pessoais e valores do ex-deputado. Na margem esquerda do documento, à caneta, consta uma assinatura, possivelmente de Paiva.
Molinas também guardava em casa um pedaço de folha de caderno, no qual um oficial não identificado escreveu de próprio punho, em 4 de fevereiro de 1971, que foram retirados pela Seção de Recebimento “todos os documentos pertencentes ao carro” de Paiva que tinha sido levado para o destacamento.
A Míriam Leitão, Fonteles disse que conduz uma pesquisa baseada em 16 milhões de documentos secretos da ditadura, principalmente do antigo Serviço Nacional de Informações (SNI) e do CISA, guardados no Arquivo Nacional, em Brasília. O coordenador da comissão, que já escreveu 85 páginas sobre o seu conteúdo, lamentou que a Marinha e o Exército não tenham entregue até hoje os seus documentos secretos.
“Eles (militares das duas forças) insistem em dizer que foi tudo destruído. Mas, se tiverem vontade de achar, vão acabar encontrando. A Polícia Federal, em julho passado, fez uma varredura (em seus arquivos) e recebemos recentíssima documentação. É possível a varredura achar”, disse o presidente da comissão.
Fonteles afirmou que, se as duas forças destruíram documentos, são obrigadas a apresentar atas com a identificação do que foi eliminado. Caso contrário, a destruição foi ilegal.
Fonte – Diário de Pernambuco
‘Rubens Paiva foi morto por agentes do DOI-Codi’
Em entrevista em vídeo ao iG, Cláudio Fonteles, presidente da Comissão da Verdade, confirma que deputado foi de fato assassinado após cerca de dez dias de martírio
Documentos militares confidenciais encontrados no Arquivo Nacional, em Brasília, revelam que o ex-deputado Rubens Paiva, tido como desaparecido, na verdade foi executado por agentes do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informação do Centro de Defesa Interna) do Primeiro Exército (Rio de Janeiro).
A informação foi dada pelo ex-procurador geral da República, Claudio Fonteles e coordenador da Comissão Nacional da Verdade em entrevista ao iG , concedida nesta quinta-feira (10). “Ele foi morto por agentes do Doi-Codi”, revela. Segundo Fonteles, a versão oficial contada até hoje é uma “fantasia absoluta”.
Leia mais: Documentos trazem luz ao caso Rubens Paiva, deputado morto na ditadura
Porto Alegre: Polícia apura assassinato de ex-comandante do DOI-RJ
A revelação, baseada em documentos oficiais produzidos pelos órgãos de informação do regime militar (1964-1985), desmente duas versões difundidas nos últimos 40 anos: a de que Paiva teria desaparecido em uma suposta operação de resgate pela esquerda ou que tenha sido preso e morto por militares da Aeronáutica. O ex-deputado foi preso em casa, no dia 20 de janeiro de 1971, e levado direto para a sede do DOI-Codi, de onde nunca mais saiu com vida. Fonteles estima que o martírio do deputado durou dez dias.
Os informes e relatórios confirmam também que um dos responsáveis pela prisão, tortura e morte do ex-deputado é o coronel Julio Miguel Molinas Dias,assassinado no dia 1º de novembro do ano passado em Porto Alegre . Na residência do militar, que à época era chefe DOI-Codi do Primeiro Exército, a Polícia Civil gaúcha encontrou documentos indicando a passagem de Paiva pelo órgão.
O procurador Claudio Fonteles afirma que os novos documentos encontrados no Arquivo Nacional podem ajudar a esclarecer definitivamente o caso Rubens Paiva, um dos grandes segredos dos anos de chumbo. Ele vai divulgar um relatório detalhando as informações encontradas nos documentos e que ganham importância histórica por terem sido produzidos pelo próprio regime militar.
Veja o especial do iG: A Ditadura Revisada
Leia as notícias sobre a Comissão da Verdade
Nessa entrevista em vídeo, Fonteles também lança novas luzes sobre a participação do major Curió na Guerrilha do Araguaia . Curió é tido como o principal agente repressor do período. Mas documentos preliminares apontam que ele não foi o único responsável.
Veja a entrevista:
ENTREVISTA DE CLÁUDIO FONTELES AO iG
Em entrevista em vídeo, Cláudio Fonteles, presidente da Comissão Nacional da Verdade, afirma que deputado federal foi morto pelo Doi/Codi do 1º Exército
Fonteles avalia que nesses oito meses de Comissão da Verdade já é possível comprovar que o Estado montou uma estrutura que tinha como prioridade o chamado “paroxismo de segurança” e que o órgão deixará como legado uma cultura democrática, anti-golpista e de respeito aos direitos humanos.
Como ex-membro do Ministério Público Federal (MPF), Fonteles disse que não há qualquer impedimento para que inquéritos contra militares ou agentes repressores sejam abertos após os trabalhos da Comissão da Verdade e defendeu, como cidadão, que todos os crimes ocorridos na Ditatura Militar sejam julgados no futuro.
Fonte – IG
‘Rubens Paiva foi assassinado no Exército’, diz membro de comissão
O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Claudio Fonteles, divulgará em fevereiro ou março um texto de sua autoria segundo o qual há provas documentais de que o deputado federal Rubens Paiva foi morto por agentes da ditadura militar no interior de um prédio do Exército no Rio.
O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Claudio FontelesCrítico da ditadura, Paiva desapareceu em janeiro de 1971, aos 41 anos de idade.
A versão oficial que o Exército mantém até hoje é que Paiva fugiu das mãos dos militares no Rio. Papéis que têm vindo a público ao longo dos anos e depoimentos testemunhais, contudo, indicam que Paiva foi morto sob tortura nas mãos do Exército.
Fonteles afirmou ao programa da jornalista Miriam Leitão, no canal GloboNews, e ao portal “iG” que há documentos no Arquivo Nacional que apontam para o assassinato de Paiva no interior do DOI-Codi, um dos principais centros da repressão militar à esquerda na época da ditadura (1964-1985).
O coordenador reconheceu que ainda não há pistas do destino dado ao corpo pelos militares nem os nomes dos autores do crime.
Em novembro, a Folha revelou que documentos entregues à Polícia Civil do Rio Grande do Sul pela família do coronel Júlio Miguel Molinas Dias, morto a tiros quando chegava em sua casa em Porto Alegre (RS), ajudariam a confirmar a morte de Paiva nas mãos da ditadura militar.
Dias comandou o DOI-Codi do Rio no fim da década de 70 e no início dos anos 80. Um dos documentos confirmou que Paiva chegou a dar entrada no DOI-Codi.
Fonte – Folha de S.Paulo