Documentário conta a saga dos índios Aikewára durante a ditadura

O episódio ainda não contado da Guerrilha do Araguaia é o tema de Aikewára — documentário de longa-metragem que está sendo rodado pela produtora paraense Caminho Luminoso. Sob a direção de Luiz Arnaldo Campos e Céllia Maracajá e a consultoria do representante do PCdoB no Grupo de Trabalho Araguaia (GTA) e membro do Comitê Paraense pela Memória e Verdade, Paulo Fonteles, o filme irá contar a saga de luta do povo indígena.

Oficina de Audiovisual Indígena teve a participação de jovens e de guerreiros veteranos

As primeiras imagens foram rodadas entre os dias 5 e 11, nas aldeias Sororó e Itahy, localizadas no município de São Geraldo do Araguaia.

Além dos relatos dos indígenas sobre sua história, desde os combates imemoriais com os Kayapós, os primeiros contatos com os brancos e a terrível experiência com as tropas do Exército durante a repressão à Guerrilha do Araguaia, foram colhidas imagens do cotidiano e registrada a experiência da Comissão da Verdade Suruí — a primeira comissão indígena formada para levantar os fatos ocorridos durante a ditadura militar (1964-1985).

Para os idealizadores do projeto a vontade dos Suruí de romper um silêncio de quarenta anos faz parte da sua última ressurreição. A violência da ocupação militar da aldeia resultou na perda de importantes tradições –festas, danças, hábitos- que deixaram de ser praticadas e, portanto não foram repassadas à geração mais jovem. Agora, juntamente com a formação da Comissão, muitos Suruí — alguns deles bem jovens — se empenham na recuperação de sua cultura, inclusive a língua que continua a ser praticada, principalmente pelos mais velhos que viveram os horrores da presença militar e que começam agora a contar esta parte dolorosa de sua história.

Durante a estadia em terras suruí a diretora Celia Maracajá ministrou uma Oficina de Audiovisual Indígena — que teve a participação de jovens e de guerreiros veteranos como Massu e Arekaxu, protagonistas das histórias que serão contadas no filme.

Além das tomadas no território suruí, foram realizadas gravações com camponeses e representante da Associação dos Torturados na Guerrilha do Araguaia, sede em São Domingos do Araguaia, traçando o contorno de uma violência que atingiu a todos os moradores da região. Os próximos passos do documentário serão o acompanhamento de um delegação suruí à Brasília para se entrevistarem com a Comissão da Anistia e a Comissão da Verdade, a busca de dados nos arquivos da Funai e novas visitas as aldeias.

 

Aikewára Suruí

Os Aikewára Suruí são um povo de sobreviventes acostumados à ressurreições. Em meados da década de 60 estavam reduzidos a trinta e três indivíduos, como resultados das doenças trazidas pelo homem branco e a implacável caçada promovida pelos donos de castanhais e seringueiros do sul do Pará. No começo dos anos 60 enfrentaram a mais dura provação, anunciada pelo pouso na aldeia de improváveis helicópteros militares. Eram as forças do Exército empenhado na luta contra a Guerrilha do Araguaia. A partir daí foi como se a terra se abrisse e o céu desabasse sobre suas cabeças. Foram mantidos prisioneiros dentro de sua própria aldeia, impedidos de cultivar suas roças e de caçarem no mato, sofrendo fome, violências, abusos sexuais. Alguns de seus guerreiros, sob ameaças, foram obrigados a servir como mateiros auxiliando as tropas militares numa guerra estranha e para eles incompreensível.

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