Vídeo: Locais que guardam a memória dos anos da ditadura militar se perdem em SP

A torre em que a presidente da República ficou presa virou pó. A placa que lembrava a morte do guerrilheiro foi arrancada na calada da noite. O quartel-general da tortura teve as paredes pintadas e reabriu como delegacia.

Enquanto a Comissão da Verdade investiga em Brasília os crimes da ditadura militar (1964-85), São Paulo vê desaparecer grande parte dos locais que guardam memórias da repressão.

Um arco de pedra na calçada da avenida Tiradentes, perto da entrada do metrô, é o único vestígio do lugar onde ficaram presos cerca de 300 militantes de diversas organizações da luta armada.

Dilma Rousseff passou quase três anos na ala feminina, conhecida como Torre das Donzelas. Demolida em 73, a prisão foi tema de livro, mas sua antiga entrada não tem sequer uma placa para lembrar o que aconteceu ali.

Na rua Pio XI, na Lapa, não sobrou nem a porta da antiga casa 767, onde três dirigentes do PC do B foram mortos a tiros de metralhadora em 1976. O episódio ficou conhecido como Chacina da Lapa.

A alameda Casa Branca, nos Jardins, chegou a ganhar um monumento no lugar em que a ditadura matou o líder da ALN (Ação Libertadora Nacional), Carlos Marighella, em 4 de novembro de 1969.

Após protestos de militares, vândalos arrancaram a placa que homenageava o guerrilheiro. Hoje o episódio só é lembrado por estudantes, que volta e meia colam um adesivo com a inscrição “alameda Marighella” numa das placas da rua.

Na rua Tutóia, no Paraíso, um antigo QG da tortura segue de pé como delegacia. O prédio do 36º DP foi sede da Oban (Operação Bandeirante), depois rebatizada de Doi-Codi. Lá teriam sido mortos 46 presos políticos, segundo historiadores.

Ex-presos querem que o edifício seja tombado para a construção de um memorial, mas o pedido está parado no Codephaat, o órgão estadual de patrimônio histórico.

“Aquele lugar precisa virar um símbolo da luta contra a tortura. Este não é um assunto do passado, e sim do presente no Brasil”, afirma o pesquisador Ivan Seixas, uma das vítimas da Oban.

Outros locais associados à repressão em São Paulo ainda permanecem envoltos em mistério, como a fazenda 31 de Março, no extremo sul da região metropolitana. Na propriedade, batizada com a data do golpe militar de 1964, funcionou uma base extraoficial da repressão.

“Até hoje não se sabe quantas pessoas morreram ali”, diz a museóloga Katia Felipini.

O Memorial da Resistência, que ela coordena, é uma exceção. Ao ser aberto, em 2002, recuperou a história da antiga sede do Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social), na Luz. No térreo, pode-se visitar celas que receberam presos políticos.

O memorial prepara um mapa da repressão na capital paulista que já tem mais de cem locais. A meta é conclui-lo até o fim de 2014.

 

 

Fonte – Folha de S.Paulo

 

 

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