Embaixador de Israel leu carta de condolências por tragédia no RS. Cerimônia homenageou dois brasileiros que ajudaram judeus a fugir.
A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quarta-feira (30), durante discurso na cerimônia do Dia Internacional em Memória de Vítimas do Holocausto, que “negar o holocausto é repeti-lo”. “Devemos sempre lembrar que o holocausto também se repete quando é negado ele mesmo, quando é relativizado ou quando se tenta suavizar sua narrativa”, disse.Além da presidente Dilma, vários ministros e líderes políticos participaram da cerimônia em memória às vítimas do holocausto, evento organizado pela Confederação Israelita do Brasil (Conib). A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas a fim de transformar o resgate histórico do massacre nazista em luta pelos direitos humanos.
A cerimônia deste ano homenageou dois brasileiros que, segundo informou a Conib, salvou centenas de judeus ao emitir vistos para o Brasil, contrariando, na época, ordens do governo Getúlio Vargas. São eles o embaixador brasileiro na França, Souza Dantas, e a funcionária do consulado em Hamburgo, Aracy Guimarães Rosa.
Presidente Dilma Rousseff acende vela em memória das vítimas do holocausto ao lado de Eduardo Tess, filho de Aracy Guimarães Rosa, mulher do escritor Guimarães Rosa e que ajudou na fuga de judeus; e ao lado de Marcos de Souza Dantas, sobrinho-neto de Luiz Martins de Souza Dantas, embaixador brasileiro que ajudou vítimas do nazismo (Foto: Roberto Stuckert Filho / Presidência)
O embaixador Rafael Eldad afirmou que o holocausto foi o “maior crime da história da humanidade” e defendeu o “estado forte de Israel”. “O estado forte de Israel é a melhor garantia de que atrocidades como esta não voltem a acontecer”, disse durante discurso.
“O holocausto deve sempre nos lembrar o que um regime extremo, baseado no ódio ao próximo, pode causar”, afirmou Eldad.
A Conib representa a comunidade judaica brasileira e tem 120 mil integrantes. A cerimônia do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto é realizada pela entidade todos os anos e relembra que o regime nazista, segundo a Conib, massacrou, além de seis milhões de judeus, outros grupos e minorias como ciganos.
Ditadura militar
Dilma comparou a celebração à memória das vítimas do regime nazista à instalação da Comissão da Verdade, em maio do ano passado.
“Sabemos que a verdade e a memória são uma arma contra a repetição da barbárie, por isso muito me orgulho de ter sido no meu governo que nós criamos a Comissão da Verdade”, afirmou.
A presidente afirmou que o Brasil tem uma “terrível mancha na história”, que foram os 300 anos de escravidão de negros, mas destacou que atualmente várias etnias convivem no país.
“Felizmente, para nós o Brasil se transformou num país democrático. No nosso país vivem pessoas originárias de diferentes culturas, etnias. Somos formados por imigrantes, temos várias origens. E aqui convivem em harmonia todos os povos, mesmo aqueles que de forma recente, como judeus e árabes, vivem relações atritadas em outras partes do mundo”, afirmou Dilma.
“O mau é banal porque é praticado por seres humanos, como todos nós, banais. E aí, qual e a saída? A democracia continua sendo o melhor instrumento que a humanidade dispõe para evitar a repetição”, completou a presidente.
Tragédia em Santa Maria
O presidente da Conib, Claudio Lottenberg, lembrou que a tragédia de Santa Maria ocorreu em 27 de janeiro, o mesmo em que se comemora o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
O presidente de Israel, Shimon Peres, lamentou o incêndio que causou a morte de mais de 230 jovens neste final de semana em carta lida pelo embaixador de Israel no Brasil, Rafael Eldad. Ele afirmou que a comunidade judaica ora pelas vítimas.
“Nossos corações estão com todos vocês enquanto inclinamos nossas cabeças e oramos juntos diante de tanta perda”, afirmou Peres. “Fiquei consternado e profundamente triste com a terrível tragédia que golpeou o Brasil. […] Estendo minhas mais sinceras condolências às famílias das vítimas e a todo o povo brasileiro, desejando completa e pronta recuperação aos feridos”, disse em carta o presidente.
Laudo dos bombeiros
O evento com a presidente Dilma, que seria na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), teve o local alterado após o Corpo de Bombeiros concluir que o local não atendia a condições de segurança.
Segundo informou o Gabinete de Segurança Institucional, uma vistoria do local foi realizada nesta terça (29) pelo Corpo de Bombeiros, cujo laudo apontou que o local “não atende plenamente às condições de segurança”.
O documento recomendou que as placas de sinalização das saídas de emergência e do extintor de incêndio sejam verdes, e não vermelhas, como as do auditório. Durante a tarde desta quarta, a organização do evento informou que a cerimônia ocorreria em um hotel.
Fonte – G1