Coluna A Tarde: Renan, ditadura e anistia

O senador Renan Calheiros está sob cerco para que renuncie à sua pretensão de se tornar presidente do Senado, pela segunda vez, nesta sexta feira. Ele recusa. De igual modo trabalha Henrique Eduardo Alves, que quer o comando da Câmara dos Deputados. É possível que, nas próximas horas, pelo menos Calheiros, que já renunciou à presidência do Senado uma vez, entenda que ele, se retornar ao cargo terá vida de satanás, porque trégua não terá, diante das novas embrulhadas que se envolveu, uma das quais recebeu denúncia encaminhada ao Supremo Tribunal Federal oferecida pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel. O procurador também passou a analisar denúncias efetuadas por Marcos Valério contra Lula. Que, desse modo, permanecerá sob desgaste, em casa astral negativa que dele não se afasta nos últimos tempos.

Esta tem sido a sina em que o ex-presidente está imerso. Agora, para variar, passou a dar conselhos e orientações a petistas em cargos de mando, o que lhe valeu ser chamado de “ministro da Articulação Política” por seus próprios companheiros. Se Renan chegar à presidência do Senado, certamente ele se tronará mansinho, se for possível, virará santo para que a imprensa esqueça-se dos seus “malfeitos”, no seu passado recente. Como se trata de uma figura que não desperta fidalguia, nem simpatia, ele comandará a Casa maior do Senado com a mancha que sempre o acompanhará na vida pública. Aliás, a presidente Dilma Rousseff, que usou o termo  “malfeito” para fugir da palavra corrupção, a mais correta e usada, até agora não deu um pio sobre o que acontece no poder Legislativo.

Compreende-se. Bem provavelmente não queira se envolver em assuntos de outro poder. Renan Calheiros tem como companheiro o candidato a presidente da Câmara. Henrique Eduardo Alves, do Rio Grande do Norte, que também é figurinha manjada. No momento, contra os dois recai uma nova denúncia, ontem divulgada. Ambos estão negociando apoios políticos, realizando ações de lobby “para agilizar processos de aliados na Comissão de Anistia, órgão vinculado ao Ministério da Justiça, que julga os pedidos de indenização a pessoas perseguidas pela ditadura militar”. Ora, vejam! Há, na história do combate à ditadura, inúmeros casos de brasileiros que puseram as suas vidas em jogo, morreram ou desapareceram, em defesa da democracia. Estes e suas famílias merecem, de fato, indenização. Muitos mergulharam na clandestinidade e como, na sua maioria esmagadora, eram jovens idealistas, ficaram impedidos de conduzir suas vidas dando rumo a elas. Há, também, os que receberam indenização fajuta por nada terem feito no combate às forças de repressão. E outros, ainda, que vivem no passado, somente no passado, considerando-se heróis da luta contra o regime militar. São os sonhadores que alimentam a alma com lembranças de outros tempos.

Nesse aspecto emerge a desfaçatez, a falta de vergonha e o jogo sujo. Segundo a “Folha”, que obteve documentos a partir da Lei de Acesso à Informação, estes pretendente a cargos no Senado e na Câmara pediram, juntos que 17 casos –observem a falta de vergonha- que 17 casos fossem analisados de forma prioritária desde 2005. Segundo o jornal, nove desses processos foram deferidos e outros três, indeferidos Enfim e para completar a absoluta falta de ética, “das 17 requisições, 10 foram para filiados a partidos -PT, PSDB, DEM, PP e, principalmente, PMDB. Um dos documentos indica que Renan ganharia ajuda eleitoral em contrapartida à sua atuação no Ministério da Justiça.”

E aí entra a Bahia na história. O jornal, de posse de documentos, revela que uma carta de um certo Paulo Nogueira Silva, filiado ao PMDB baiano, foi anexada pelo próprio senador em ofício enviado à comissão.” Prossegue:  “Nela, o militante pede que o senador o ajude em um processo de seu cunhado”. “Em contrapartida, promete ajudar Renan pessoalmente e empenhar familiares da cidade alagoana de Pão de Açúcar nas eleições de 2006.” Isso é bandidagem. Não conheço este peemedebista baiano e não desejo conhecer. O assunto, no entanto, não para aí. Dá conta de que Renan enviou os papéis do tal baiano ao ministério e a resposta saiu em 2007 atendendo o pedido do cunhado, contando tempo em que o cidadão, que exerceu o cargo de vereador, para a sua aposentadoria.Observem: ele foi vereador na ditadura e, na época, os vereadores não eram remunerados.

Calheiros, ao que parece, tinha passagem livre na Comissão de Anistia e usou seu prestígio para favorecer possíveis envolvidos na resistência à ditadura que, depois, se transformaram em políticos profissionais, usando métodos de pouca vergonha para aferir vantagens. Alguns advogados consultados pelo jornal paulista entendem que houve “crimes de tráfico e de advocacia administrativa”. Assim, embola-se a história. Fica impossível separar os grandes e corajosos combatentes, aqueles que sofreram perseguição da ditadura militar por defendem a democracia, com moleques aproveitadores que correm atrás de vantagens, como indenização e aposentadoria.

É esse o Renan Calheiros que, aliás, o Brasil conhece que, agora, pretende voltar à presidência do Senado com o apoio do PT, PMDB e outros partidos mais. Todas essas legendas hoje consideram que têm remanescentes do combate à ditadura militar. Dilma não foi guerrilheira, presa e torturada? Por que não orienta a sua base de apoio para cair fora desta maracutaia indecente onde estão Calheiros e Henrique Alves?

 

Fonte – Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde desta quinta-feira (31)

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