Comissão da Verdade dos Jornalistas

Audálio Dantas fala dos passos iniciais da recém-constituída Comissão da Verdade dos Jornalistas

Fonte: Associação Brasileira de Imprensa/ABI

Comissão da Memória, Justiça e Verdade dos Jornalistas Brasileiros, instituída há pouco mais de uma semana, irá investigar 24 casos de profissionais assassinados por agentes do Estado durante a ditadura militar. Como ponto de partida o grupo tem em mãos documentos entregues pela ministra Maria do Rosário, da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República (SDH).

A equipe, presidida pelo jornalista Audálio Dantas, 80, pretende trazer a tona não apenas mortes, mas também casos de violência física e de censura sofridos por repórteres e meios de comunicação, entre 1964 e 1988.

A gestação da comissão da verdade dos jornalistas ocorre desde o 35º congresso nacional da categoria, realizado entre 7 e 10 de novembro do ano passado, na capital do Acre, Rio Branco. No nascimento, entre 18 e 19 de janeiro, durante Seminário Internacional de Direitos Humanos e Jornalismo, em Porto Alegre, foram nomeados, além de Audálio Dantas, como presidente, Sérgio Murillo, da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj); Rose Nogueira; Carlos Alberto Caó e o ex-deputado Nilmário Miranda.

Em entrevista, feita por telefone, Audálio Dantas destaca que a organização do trabalho será iniciada em uma nova reunião prevista para ocorrer em São Paulo nas próximas semanas. Além dos documentos fornecidos pela SDH, o grupo deverá entrevistar jornalistas que, de alguma maneira, foram atingidos pela violência da ditadura militar.

“Vamos investigar como se operou a censura no país, de que maneira isso contribuiu, por exemplo, para o prejuízo das publicações, fechamento de redações e [consequentemente] na perda de emprego de muitos jornalistas”, aponta.

Em alguns casos o trabalho da comissão não partirá do início, isso porque durante e após o regime militar trabalhos de investigação, feitos geralmente por amigos e parentes das vítimas, não permitiram que casos de morte e desaparecimento forçado fossem totalmente esquecidos.

Por outro lado, o caso de Vladimir Herzog, jornalista morto em outubro de 1975, após ser preso nas dependências do Destacamento de Operações de Informações/Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), nunca foi esquecido graças a mobilização do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.

Audálio, autor do livro “As duas guerras de Vlado Harzog”, recentemente publicado, destacou que um dos empecilhos previstos nos trabalhos da comissão será reunir fatos a partir das entrevistas de quem viveu aquela época.

“A violência da ditadura militar foi tão grande que até hoje algumas pessoas não querem falar. Eu tive a constatação desse problema ao procurar pessoas que tiveram algum contato [participação ou informação] na morte de Harzog, inclusive com jornalistas que prometeram falar e depois não quiseram”.

Audálio reconhece que a sociedade civil e o Estado brasileiro demoraram para constituir comissões da verdade sobre fatos ocorridos na ditadura militar. Mas, ainda que tardiamente, a formação desses grupos será importante no fortalecimento de debates pelo fim da violência institucionalizada no país.

“Mesmo que essas pessoas [diretamente ligadas à tortura e morte de presos políticos] não sejam punidas, porque existe uma lei de anistia (clique aqui) que não permite, seus nomes serão apontados para a execração pública e para o registro da história”, completa.

Comparação

Para Audálio, os meios de comunicação do país não sofrem mais com a censura, desde a Constituição de 1988. “Houve uma luta muito forte [desde a ditadura] para conquistarmos essa liberdade de expressão que hoje alguns meios de comunicação gritam que está sendo ameaçada, mas é uma mentira. Hoje não há nenhuma ameaça a liberdade de expressão no país, do ponto de vista político-institucional”, pondera.

Fazendo uma rápida comparação entre a cobertura jornalística durante a repressão e nos dias de hoje, Audálio entende que a censura existe, mas de forma localizada. “Em alguns estados onde as instituições [democráticas] ainda não são muito fortes vemos jornalistas sendo censurados em função de suas opiniões. Essa prática chega a ser escandalosamente praticada pelo poder judiciário”, pontua, completando em seguida que a censura se reduz aos interesses do poder econômico em boa parte dos casos.

Em 2012 foram registrados 22 mortes de jornalistas em toda a América Latina. O local mais perigoso para se exercer a profissão é no México, onde morreram sete repórteres. No Brasil, houve quatro mortes no ano passado. Em Honduras foram três mortes e na Colômbia, duas. Os registros são do Instituto Internacional da Imprensa (IPI, na sigla em inglês).

 

Fonte – Brasilianas

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