Ao narrar a “revolução de 1964”, um dos volumes da coleção Marechal Trompowsky afirma que o golpe foi promovido por “grupos moderados e respeitadores da lei”.
O livro diz que o Congresso declarou a Presidência da República vaga antes de eleger o general Castello Branco presidente, logo após o golpe, mas omite o fato de que o presidente deposto João Goulart ainda estava no país.
Outro livro, “500 anos de História do Brasil”, diz que a Guerrilha do Araguaia (1972-1975) terminou após “a fuga dos líderes”, sem fazer referência às mortes e ao desaparecimento dos guerrilheiros encontrados pelo Exército.
Existem 12 escolas militares no país. Elas oferecem vagas do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio e têm hoje 14 mil alunos matriculados, muitos deles filhos de militares.
O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Cláudio Fonteles, afirmou que os livros poderão ser alvo de recomendações da comissão, criada para investigar violações contra direitos humanos ocorridas especialmente durante a ditadura.
“Esse é um tema propício a ser tratado nas recomendações”, disse. “É preciso respeitar a autonomia [das escolas militares], mas não se pode fugir completamente ao programa adotado nas outras escolas públicas e privadas.”
Para o professor de história da UFRJ Carlos Fico, o governo deveria promover uma reforma geral nos currículos militares. “Não sabemos como funcionam as escolas para oficiais”, diz. “Não é uma questão militar. Diz respeito à segurança da sociedade.”
A Associação Nacional de História pretende pedir ao Ministério da Educação e ao Ministério da Defesa que avaliem os livros adotados nas escolas militares.
OUTRO LADO
Em nota, o Ministério da Educação afirmou que não pode interferir no currículo das escolas militares. O Ministério da Defesa informou, por sua vez, que só acompanha o conteúdo pedagógico das instituições destinadas à formação de oficiais e praças das Forças Armadas.
Responsável pelas publicações da coleção Marechal Trompowsky, o general José Carlos dos Santos, comandante da Diretoria de Ensino Preparatório Assistencial do Exército (DEPA), não quis se manifestar sobre o tema e sugeriu que eventuais questionamentos fossem dirigidos à assessoria do Exército.
Em nota, o Exército informou que foram necessários três anos de pesquisas para produzir a coleção e disse que ela é atualizada anualmente pelos autores, mas evitou discutir questões específicas.
Fonte – Folha de S.Paulo