O Documentário Raul soares – Histórias que nunca se apagam, tem como objetivo revelar as atrocidades cometidas em Santos durante os anos da ditadura militar. “Através de depoimentos de especialistas, vítimas, familiares e personalidades que vivenciaram tais momentos, procuramos revelar uma fase da história de Santos, que apesar de estar tão próxima a nós temporalmente, é esquecida pela população.” Raul soares – Histórias que nunca se apagam é registro audiovisual que visa resgatar a história.
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Governo Federal vai apurar atos de torturas no navio Raul Soares
Comissão Nacional da Verdade começa investigação com base em reportagens do Diário do Litoral.
O Governo Federal, através da Comissão Nacional da Verdade, vai investigar, a partir desta semana, os atos de torturas físicas e psicológicas, praticados contra sindicalistas e presos políticos, nos porões e calabouços do navio-prisão Raul Soares, que ficou atracado no Porto de Santos, de 24 de abril a 23 de outubro de 1964, início da ditadura militar no Brasil.
As apurações dos fatos, quase 49 anos depois, vão ocorrer após a série de reportagens publicada no Diário do Litoral, de outubro a novembro de 2012, denominada Democracia à Deriva, que trouxe fatos novos, entrevistando personagens dessa triste história para o sindicalismo da região e para a sociedade santista. As reportagens foram os indícios de prova juntados pelo Governo Federal e anexados aos autos da investigação.
A série começou com a entrevista do cientista médico Thomas Maack, localizado em Nova Iorque, Estados Unidos, um dos presos políticos daquele navio, que perseguido pela ditadura militar, teve que fugir do País e buscar refúgio e exílio nos Estados Unidos. Maack é hoje famoso cientista em pesquisas médicas e, a convite do Diário do Litoral, veio a Santos em 8 de novembro, quando recebeu homenagens da Câmara de Santos e do movimento sindical da Baixada Santista.
Uma das poucas vozes que restam dos porões do Navio Raul Soares, o sindicalista Portuário, Argeu Anacleto, com 83 anos, foi também localizado pelo DL e sua entrevista foi bastante comovente, pois falou de dor, torturas, sofrimento, e pediu que o Governo Federal apurasse os fatos, através de sua Comissão da Verdade.
Navio Raul Soares se transformou no símbolo da ditadura militar no País. (Foto: Divulgação)
Em busca da verdade
Denise Assis é a pessoa encarregada em desvendar os mistérios que cercam àquela lúgubre embarcação, que foi enviada ao Porto de Santos pela ditadura militar para servir de presídio flutuante e para afrontar a sociedade santista.
De posse das reportagens do DL, ela busca documentos e depoimentos de presos e autoridades. E seu trabalho já teve início. O primeiro que foi ouvido, em longo depoimento, no Rio de Janeiro, foi o capitão dos portos daquela época, Júlio de Sá Bierreenbach, que, aos 94 anos, contou sua versão, mas os detalhes do depoimento, Denise diz que não pode revelar, uma vez que tudo será apurado e depois enviado para a Comissão da Verdade.
Através do DL, ela obteve o contato do médico Thomas Maack, que de Nova Iorque, autorizou ao jornal fornecer seu e-mail. Obteve também outras informações que vão auxiliar em seu trabalho em Santos.
Reportagens do DL têm repercussão internacional
As 14 reportagens da série “Navio-prisão: Democracia à Deriva” foram enviadas e recebidas por entidades internacionais de direitos humanos (OIT, ONU, OEA e Interamericana) tendo sido enviadas por sindicalistas e políticos da região, e tiveram grande repercussão, pois essas entidades desconheciam a história da repressão a sindicalistas através da transformação de um navio em presídio, e exatamente no local de trabalho(porto) da maioria dos presos.
As publicações sobre os fatos ocorridos há quase 49 anos foram anexadas também nas comissões de Direitos Humanos da Câmara Federal e do Senado.
A Câmara de Santos aprovou requerimento com votos de congratulações ao Diário do Litoral e seus vereadores, a exemplo de sindicalistas de Santos, cobraram do Governo Federal a apuração dos fatos pela Comissão Nacional da Verdade.
Consta que o navio-prisão Raul Soares pode ter abrigado quase 500 presos sem direito a nada. Ninguém sabe, ao certo, o número exato. É que seu diário de bordo, caso exista, até hoje não foi localizado.
Fonte – Diário do Litoral