Comissão da Verdade mais perto de provar que Anatália Alves foi assassinada na ditadura

Relatório das investigações será apresentado nesta quinta

Morta há 40 anos, a comunista foi encontrada no banheiro do Dops, no Recife. Oficialmente, ela teria ateado fogo nas roupas e se suicidado.

A Comissão da Verdade Dom Helder Câmara apresentará as descobertas sobre o Caso Anatália Melo Alves nesta quinta-feira (14), às 9h, na sede da Secretaria Executiva de Justiça e Direitos Humanos, na Benfica.

Durante a reunião, serão reveladas informações sobre o local de sepultamento e atestado de óbito de Anatália Melo Alves, até então desconhecidos para a sociedade. O bancário aposentado Luiz Alves Neto, que foi casado com Anatália Alves, também estará presente à solenidade. De acordo com a comissão, sumir com corpo era apenas uma das maneiras de esconder a verdade. O atestado de óbito aponta como causa da morte asfixia por enforcamento, o que contradiz a informação oficial de que a comunista teria se matado.

 

Crime

Anatália Alves pertenceu ao Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) e morreu aos 28 anos, no dia 22 de janeiro de 1973. Seu corpo foi encontrado, parcialmente carbonizado, na cela Departamento de Ordem Política e Social (Dops), no Recife, vítima de torturas físicas e psicológicas. A primeira versão apontada foi de suicídio. No ofício nº 21, dirigido à Diretoria do Instituto de Polícia Técnica, assinado pelo delegado de Segurança Social, Redivaldo Oliveira Acioly, a mulher teria “suicidado-se, usando, para isto, um pedaço de couro, em forma de ‘tira’, além de haver ateado fogo em suas vestes”.

 

Histórico

Durante a primeira sessão pública do caso Anatália, foram ouvidos os ex-presos políticos: José Adeildo Ramos, professor aposentado, Luiz Alves Neto, bancário aposentado que foi casado com Anatália Alves, e Edmílson Vitorino de Lima. Durante quatro horas, cada um relatou sobre as prisões e torturas, no final de 1972, na sede do Departamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi), órgão subordinado ao Exército, e no DOPS. Eles foram convidados pela Comissão para auxiliar na apuração das circunstâncias da morte de Anatália Melo Alves, na sede do DOPS.

Luiz Alves contou que a companheira foi algemada, submetida a torturas violentíssimas, que teriam sido praticadas por quatro agentes na sede do Doi-Codi. “Eu ouvia os gemidos dela gritando por mim. Eu só podia dizer: Canalhas! Bandidos! E chorar. Um companheiro me disse que Anatália havia sido estuprada por “Miranda” e mais quatro agentes”. De acordo com ele, o casal foi transferido para o Dops. Lá, no dia 22 de janeiro de 1973, Anatália apareceu morta no banheiro. “Antes do ocorrido, cheguei a ouvir uma pancadaria, mas não sabia de que se tratava e também não posso afirmar se tinha relação com o que aconteceu a Anatália”. “Fui chamado por um policial para ver a minha companheira morta. Toda a imprensa estava lá. Denunciei que a repressão matou a minha mulher. O corpo estava estendido no chão”.

O bancário ainda contou que, anos depois, uma pessoa (dizendo-se do Dops) teria entregue uma urna funerária lacrada com o que seriam os restos mortais de Anatália Melo Alves. A ordem é de que a urna jamais fosse aberta. A relatora do caso, professora Nadja Brayner solicitou que fossem ouvidos os peritos que ainda estiverem vivos e que assinaram o laudo sobre a morte da jovem. Também foi encaminhado pedido a coordenação geral da Comissão no sentido de que seja procedida uma investigação, através dos órgãos competentes, para localização desta urna e realização de exame de DNA.

 

Fonte – Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara

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