Alvo de manifestação, tenente-coronel Maurício Lima diz que “cadeira do dragão” era apenas instrumento de imobilização
O tenente-coronel reformado Maurício Lopes Lima, o mesmo acusado pela presidente Dilma Rousseff e por dezenas de presos políticos de torturas, mortes e abusos durante o regime militar, negou ontem que tenha cometido os crimes e fez críticas à presidente e à Comissão Nacional da Verdade. Ele desqualificou os depoimentos dos presos políticos e chegou a dizer que a cadeira do dragão (na qual o preso era amarrado nu e recebia choques) servia apenas para prender os braços do detento.– Ela (a cadeira) tem por exemplo o intuito de deixar a pessoa… Uma das defesas da pessoa são os gestos. Estou me defendendo aqui, estou fazendo os gestos. Quando você prende mãos, a pessoa fica sem (defesa).
Lima recebeu O GLOBO em sua casa logo após manifestação promovida pelo Levante Popular da Juventude em frente ao seu apartamento, no Guarujá. Aos 76 anos e se dizendo “quase gagá”, ele foi um dos chefes da Operação Bandeirantes (Oban) entre 1969 e 1971. Ontem, ficou trancado em seu apartamento de manhã, esperando o fim da manifestação que tem como objetivo “esculachar” acusados de tortura durante o regime militar.
– Achei isso um “besteiroide”.
Ele confirma que conheceu Dilma, diz que ela é “durona”, mas que “não é flor que se cheire”. Segundo ele, “a tortura era uma prática normal nas delegacias de polícia, mas não no setor militar”.
Ela conta que esteve com Dilma em três ocasiões e que ela era “durona”, mas não pegava em armas. Segundo Lima, a então guerrilheira da VAR-Palmares não denunciou nenhum nome importante da organização.
– Ninguém galga uma certa posição numa organização sem ter coragem. Vocês estão vendo a Dilma aí, o que ela faz. O Lula, com todo o endeusamento, nem pensou em fazer e ela está fazendo. Então, calma que ela não é, como eu digo, flor que se cheire. Ela é durona – disse o militar.
Ainda sobre a presidente, Lima afirma que ela mentiu em seu depoimento à Auditoria Militar nos anos 70, quando rejeitou o nome do então capitão Maurício como testemunha de acusação por tê-lo identificado como torturador. A declaração da presidente é um dos 39 documentos usados pelo MPF para acusar Lima de crimes contra 20 pessoas, entre eles três assassinatos, e participação na tortura a Dilma, em 1970.
– Ela exerceu um direito. É diferente de chamar de mentirosa. Como agora no julgamento, se for necessário, posso exercer esse direito também – disse ele.
Sobre a polêmica de Dilma, como guerrilheira, ter ou não pegado em armas, o militar insiste:
– Acho que foi uma boa guerrilheira. Agora, dizer que era boazinha, não, não. Mas não pegou em arma. Isso eu garanto. Para mim, seria ótimo dizer que ela era terrorista. Não é. Ela pertencia a uma organização subversiva e acabou.
Lima ainda desdenhou da Comissão da Verdade:
– Que verdade? Tem um livro chamado “Direito à memória e à verdade” feito pela Presidência. Ali só contam mentira.